Ela anda atrás das meninas do salão, braços cruzados, olhando para a decoração ao redor de si com o mais profundo desdém, e quando lhe perguntavam alguma coisa, em todo o caminho até o local de banho, ela respondia de forma ríspida, e logo as moças se calaram, nervosas, com medo de irritar uma freguesa de uma família tão ilustre. Ao silêncio, ela agradecia. Larrystein havia conseguido irritá-la - o que, Isla se recusava a admitir, não era exatamente difícil- e ela precisava recompor-se a tempo do baile, ou então acabaria enfiando uma espada em alguém, provavelmente no Aelroth mais novo. Ao pensar na cena, um sorriso cruel aparece em seus lábios, e ao perceber que as pessoas que a acompanhavam se afastaram um pouco a fez rir descaradamente.
Enfim chegaram a um quarto, e ela teve que segurar um rosnado ao vê-lo. Por céus, será que até mesmo uma casa de banho tinha de ser tão ornamentada? De um lado havia uma parede finamente pintada, com uma porta arqueada de madeira de lei, gravada com imagens de flores. Exagerado. Mas, nesse momento ela percebeu um cheiro e virou-se para o outro lado do quarto, não contendo um sorriso satisfeito. De um a parede era por uma grade de madeira de lei, decorada com uma fina linha dourada, de onde pendiam belos cachos de boca-de-lobo, cinerárias, lavando e heléboros, flores do frio e que lhe lembravam de casa. Pelo menos isso fora acertado.
Uma mulher foi ajudá-la a se despir e ela desviou uma mão dela com um leve tapa e um olhar censurador. Elas achavam que ela era o que, uma inválida? Grunhindo, Isla tirou suas roupas e só então permitiu que passassem as loções em seu corpo: produtos de uma refinada marca, tipo íris azul e branco, com um cheiro que a fazia relaxar. Entrou na banheira de água quente, a hidromassagem contra suas costas, e simplesmente se deixou aproveitar enquanto as mulheres tiravam seus nós de tensão, massageando seus ombros, seus dedos, suas costas. E parte de si, uma parte que sua avó reprovaria se soubesse, gostava de ser paparicada assim.
Com as atendentes se retirando para deixá-la com alguns minutos a só, ela afundou na água, seu cabelo azulado e levemente ondulado alcançando a metade de suas costas. Olhou para o seu reflexo na água, entre as bolhas de espuma, para as irises rosadas que herdara da mãe. Cerrou os punhos debaixo d'aguá, rangendo os dentes. Como ela queria não ter aqueles olhos, que sempre que seu pai olhava enchia seu coração de sombras, que Athenodora Black detestava. Porque não poderia ser como Armand, com o cabelo e os olhos azulados, ou com os frígidos olhos cinzentos de sua avó? Preferia a toda vez que olhar no espelho a lembrar da mãe que a abandonou e odiou sem nenhuma razão.
Balançou a cabeça. Não era na hora de pensar nisso. As mulheres entraram com o roupão do salão e ela permitiu que lhe vestissem, não sentindo vontade de questionar. Foi levada ao outro cômodo onde especialistas esperavam para fazer suas unhas e seu cabelo. Sorriu quando, ao lavarem-no, elogiarem suas maciez e o quão bem cuidado ele era. Isla rodou os olhos e fez uma expressão desdenhosa com a afirmação. Ela podia ter sido criada em um regime militar, com pouca liberdade, porém, ela
ainda tinha vaidade em si, o suficiente para ter uma pele bonita e um cabelo bom.
O mesmo não se podia ser dito de suas unhas, que tinham tamanhos diferentes, com o esmalte descascando, o que combinava com sua mão calejada e as cicatrizes do seu treinamento. Eram as mãos se uma guerreira, não de uma princesa. Como o procedimento falava, tiraram as cutículas, e passaram a base, mas Isla optou por usar unhas postiças. Feitas de porcelana, pintadas de um azul escuro levemente brilhoso frisado nas pontas, feita de tal modo que mal parecia postiça ao ser colocada.
Não precisou pensar muito no que queria para seu vestido, para os acessórios, a maquiagem. Já tinha tudo muito bem claro em sua mente, e simplesmente mandou o especialista calar a boca e disse como queria, coisas como o processo sinceramente não lhe interessavam. E ele escutou, com as mãos para trás, tendo de engolir o descaso da jovem, e apenas concordou quando ela terminou. Isla Black podia ser antipática, e desdenhosa, mas ela, aparentemente, tinha uma ótima noção do que ficava bem em si mesma.