A noite não era escura, ou, pelo menos, não tanto quanto as de outros lugares. O céu não era tingido de um azul tão escuro que mal se distinguia do próprio negro, mas sim de safira quase hipnotizante, como as noites polares da Terra, salpicado por pequenos pontinhos cintilantes, estrelas pendendo da abóbada celeste como lâmpadas de um lustre, formando constelações de beleza e forma não vistas em qualquer outra localidade.
As noite não eram escuras em Ishmerai, entretanto, eram inegavelmente silenciosas, nem o vento sussurrava. Os habitantes deitavam-se com o cair do crepúsculo e se erguia ao subir da aurora, todos os dias, até o fim de suas vidas. Todos sabiam a sua função e como importavam; todos cumpriam, desobediência inexistia e a ordem era mantida. Sempre fora assim, sempre seria assim. Valysar sabia - era um dos únicos que sabia.
Levantando os olhos púrpura para o céu, o Bispo imaginou um lugar além, onde as noites eram sim escuras e o terror estava adentrando as mentes. Onde o brilho da aurora não passara de uma ilusão, uma torpe e vã esperança que desaparecera tão rápido quando chegara. Sentiria pena, se ainda conseguisse sentir alguma coisa. O tempo apagara as emoções, e o dever absoluto não permitia remorso ou a ilusão de.
- Então tudo começa.- Sua voz era suave, não mais alta que um murmúrio, uma constatação feita para a única pessoa que poderia ouvi-la, confirmar e negá-la, a única pessoa que também sabia, que sabia mais que o próprio Valysar...
e que tinha um plano.