Biblioteca

Ela entra com cuidado na biblioteca, olhando para os lados com se estivesse procurando alguma coisa - ou melhor, evitando alguma coisa. Após verificar que o perímetro estava limpo, ela solta um suspiro aliviado e atravessa o cômodo, indo para a seção de criaturas mágicas.
"Existem formas melhores de passar o tempo, e eu só esperava que alguém pudesse entender isso" ela pensa e então começa a olhar cada um dos títulos sobre Ekalyon antes das Guerras Mágicas, até que um leve susto lhe quebra a concentração.

No alto de uma das janelas ao lado da seção, uma espécie de 'pombo' branco, detendo uma penagem peculiar, com um tipo de estrela verde no peito, usando dois laços no pescoço: um verde esmeralda e outro em azul-lavanda. Com um olhar ameaçador e uma mensagem presa em uma das patas, o pássaro bicava o vidro e batia as asas freneticamente.

- Sai daqui! - ela exclama, tentando manter o tom baixo e abanando as mãos, tentando espantar o bicho. Este, por sua vez, mostrava-se insistente.

Ele entra na biblioteca com um livro em mãos, com a capa de couro marrom um corvo gravado, amarrado por uma linha de couro fina, consumidos pelo tempo. Ele dirigi-se à seção de Magia Antiga, esgueirando-se por entre as sombras e desviando-se das pessoas, ágil e silencioso. Ao alcançar as estantes, ele passa os olhos pelas prateleiras, uma a uma, em busca de algo.

Depois de uma verdadeira 'guerra' de insistência, ela acaca de cansando de tanto pular - afinal, sua estatura é completamente insuficiente para alcançar níveis mais altos como o da janela. é nessa pequena brecha que o pássaro entra e o caos se instala: pergaminhos voando e sendo rasgados, livros jogados das prateleiras e os outros estudantes, tirando aqueles que se aproveitaram para sair com os exemplares que tinham pego, ou estavam pasmos demais para reagir, ou já usavam seus poderes para tentar controlar a situação - e falhavam.

"Pela Deusa, como uma criatura tão pequena pode causar todo esse problema?" ela pensa, querendo abrir um buraco até o centro do mundo e esconder-se lá, enquanto tentava apanhar o pássaro.

Quando os barulhos começam, ele não se preocupa em.olhar o que, simplesmente sacando sua varinha e silenciando a área em seu entorno. Isto é, até que a comoção aumenta, as pessoas começam a esbarrar em si, ele é quase atingido por uma rajada e seu livro cai no chão. Inspirando profundamente, ele fecha o livro e vai procurar a fonte dos problemas.
E vê uma garota de cabelos lilás e um pássaro. Um pássaro. Franzindo o cenho, os olhos dele tornam-se brancos.
- Immobilis.- Ele ergue a varinha, atirando não onde o bicho estava, mas onde ele estaria, previsto pelo seu poder de clarividência, fazendo com que pássaro congele no ar e caia no chão com um tombo, duro feito pedra, mas à salvo.

Ela estava a poucos passos do pássaro e, quando este fora atingido de repente pelo feitiço, ela só tem tempo de vê-lo caindo no chão, duro como uma pedra, e empalidece com a cena, sem reação.

Demorou mais algum tempo até que a situação na biblioteca voltasse a ser normalizada, com alunos mais velhos e outros funcionários auxiliando a restabelecer a ordem e organização no local: trazendo de volta os "fujões", emendando pergaminhos e colocando os livros em suas devidas prateleiras.

Só com a movimentação mais calma que ela dá conta de si, e aproxima-se do pássaro com calma - ou receio. Ela pega ele nas mãos e, antes de tudo, trata de retirar a mensagem de sua pata discretamente.
- Que problema. - ela suspira, soltando uma bufada de alívio por tudo ter se resolvido.

Ele olha para Layna e, de braços cruzados, aproxima-se dela, guardando a varinha.
- Ele não está morto. Ou ferido. - Afirma com a voz calma, apenas com um leve toque de irritação por ter sua leitura interrompida, e enquanto andava as pessoas tomavam passos e distanciavam de onde estava. Até algumas pessoas que, com raiva da confusão do pássaro e Layna, estavam se aproximando para reclamar, perderam a coragem e deram as costas. - Só imobilizado.

Ela levantou a cabeça para fitar Alec, imaginando que ele teria sido quem lançara o feitiço. Ao ouvir a afirmação - que para si havia soado um tanto debochada - ela franze o cenho, preparando uma resposta.
"Mas é claro que eu sei o que esse feitiço f-" ela pensa e interrompe o próprio pensamento, preferindo seguir com aquela lógica que lhe havia sido dada.

- Então é isso? - ela faz um gesto de alívio. - Por um minuto eu achei que... Que... - ela continua e desvia a cabeça. - Mas, você está bem? Não se machucou por causa da confusão, certo?

- Eu, não, mas os livros não podem dizer o mesmo. - Ele fala gesticulando ao redor, aos tomos sendo reparados e quase com pena, mas solta um suspiro resignado, descruzando os braços e olhando para o pombo com um olhar reprovador, pensando em como uma coisinha daquele tamanho podia causar tanto problema.- Só... Avise quando terminar de ler a mensagem. E soltamos o pombo fora da Biblioteca.

- Podemos fazer isso agora mesmo. - ela responde, olhando em volta para os olhares que recaíam sobre eles, ainda que ninguém tentasse se aproximar.

"Melhor voltar depois, qualquer coisa vou me desculpar com a administração" ela pensa e levanta-se com o pássaro em mãos, dirigindo-se à saída.

Ele apenas balança a cabeça e vai atrás dela, em silêncio.

Ela volta e entra em silêncio, observando o local muito mais calmo do que quando saiu. Verdade, o trabalho para recuperar os pergaminhos que podiam ter sido danificados e unir as folhas separadas nos documentos certos continuava, mas todos os livros já pareciam estar de volta no lugar.

- Boa tarde. - ela fala em tom baixo quando aproxima-se do balcão de atendimento. Ela faz questão de pedir as mais sinceras desculpas pela confusão, comentando sobre o pequeno animal e sobre seu paradeiro.

Em seguida, ela procede para voltar à seção em que estava, tentando evitar as encaradas que recebia no caminho - ainda que mais vazia, os outros alunos que continuavam ali não lhe pareciam menos ameaçadores.

Ele retorna a área de Magia Antiga, e usando uma varinha tira todos os livros de cima de uma mesa, que flutuam de volta para suas respectivas prateleiras. A pilha de livros que havia separado antes, intocada em uma quina entre a parede e a grande estante, com outro balanço da varinha levita-se e arruma-se acima da mesa, alguns abrindo suas páginas- línguas antigas e codificadas, léxicos delas, livros de feitiços de selamento e alguns de história. 

Olhando tudo bem organizado, ele abre um pequeno sorriso satisfeito e senta-se à mesa, colocando seus finos óculos de leitura e abrindo um dos livros de magia escrito, notoriamente, por Euhymia Gaunt.

A biblioteca parecia consideravelmente vazia e, para as poucas pessoas que estavam ali, era fácil se sentar em um lugar relativamente mais afastado. Além do livro Ars Magicae que lhe havia sido presenteado, também tinha pedaços de pergaminho específicos para serem utilizados para mensagens transmitidas por animais.

Mal se sentou e pôs a escrever, e depois de terminar ela volta a enrolá-la cuidadosamente. Ao aproximar-se de uma das janelas, ela chamou sem problemas a atrair a atenção do mesmo corvo que encontrara no primeiro dia de aula: agora o animal vivia se empoleirando nas árvores da escola, ou embaixo de sua janela. Depois de atrai-lo e de amarrar com uma fita rubra a mensagem, ela faz um leve afago na cabeça do bicho.

Chegando ao local com os braços cheios de livros alugados em outras ocasiões, incluindo edições antigas das obras de Betelgeuse, Herbert e Althecia, além de dois cadernos pretos cheios de anotações, ele coloca-as sobre uma das mesas, preparando-se para sentar e mergulhar mais uma vez nas palavras antigas, em busca de alguma coisa que houvesse passado despercebida. Como gostaria de ter os manuscritos originais!

Contudo, sua atenção foi desviada ao ouvir o barulho de um corvo, vendo Valary colocar a mensagem no animal, erguendo-se e aproximando-se da colega.

- De onde é o Corvo?- Indagou, observando o pássaro tomar voo e se distanciar. Sentia afinidade com as criaturas, e não era uma coincidência que eram o símbolo de sua família, tanto quanto valia hoje em dia.

A chegada de Alec não exatamente a pegou de surpresa, mas não impediu que desse um pulinho por medo de ter atrapalhado ou incomodado alguém com o animal - que crescia mais pedinte a cada dia, já que havia grasnado depois que ela havia se recusado a lhe dar mais carinho.

- Alec! - ela o reconhece, não deixando de estar um pouco aliviada com a pergunta. Pelo menos não era ninguém para reclamar. - Do Alphonse, mas parece gostar mais de Ekalyon.

Ele aproxima-se do Corvo, fazendo carinho nele no lugar de Valary, e o animal pareceu relaxar novamente, fazendo um movimento com as penas, como que orgulhoso e olhando para a garota como se dissesse "Está vendo?" antes de sair voando para entregar a mensagem.

- São animais excepcionalmente inteligente e com longas memórias.- Afirmou enquanto via o pássaro negro sumir atrás das torres da Escola.- Eu e Lauren costumávamos ter um de estimação.

Ela assente diante das afirmações de Alec, observando o corvo voar até desaparecer ao fazer a volta na direção de Esthrold, e só então volta a fechar a janela.

- Soube que também não esquecem um rosto. - ela comenta, ia falar também de como gostavam de fazer coisas simplesmente por prazer e não por mero instinto, diferente da maioria dos animais, mas era um detalhe passável. - E o que aconteceu com ele, por curiosidade?

Ficou quieto por um instante, desviando o olhar não era uma memória particularmente agradável, em especial porque trazia outras consigo.

-Era inverno. Não havia comida o suficiente.- A implicação era clara, e soltou um suspiro pesado com a memória.- Lauren não contou nada até alguns dias depois, quando me dei pela falta dele.

Ao ouvir a história ela franziu o cenho, imediatamente se sentindo culpada por ter se intrometido, e um olhar que emitia certa descrença. Às vezes se esquecia ao olhar para Alec hoje que a história dos Gaunt tinha sido tudo, menos fácil ou otimista.

- Desculpe, não fazia ideia. - ela responde, olhando para baixo. Suspirou, um pouco desanimada. - Qual era o nome?

- Já passou.- Respondeu com um suspiro, rodando a varinha entre os dedos- Húnnin.Mas, Valary, tem algum livro interessante recentemente?- Von Tesheen era uma das poucas pessoas que poderia ser contada para ter boas recomendações, e certamente não machucaria perguntar.

Húnnin e Muninn. Pensamento e Memória, que vagam pela terra coletando informações para Odin. Foi uma referência bem bolada, tinha que admitir, e não podia deixar de sentir um pouco mais de proximidade com o animal, ainda que há muito morto, devido aos seus poderes.

- Só um? - ela retruca, sorrindo levemente enquanto agradecia mentalmente por Alec mudar logo de assunto. - Tem Noites de Neve, por Ignatiy Ahlgren, que é a transcrição de seu diário de expedição no território de Loriath antes da Segunda Guerra Mágica, ou Veritas Praecantatio de Heshanti Mishra, que formula uma tese sobre a origem dos elementos, apesar de ser... Não sei, aparentemente abstrato demais? Algumas passagens não fazem sentido, então acho que o editor esqueceu de organizá-las. - ela responde, até que ao falar de livros sua atenção é mudada de foco. Olhou para Alec por alguns segundos, em silêncio, lembrando do que a professora Aegina havia dito sobre pessoas de confiança. - ...Mas tem um que pode ser bem melhor do que esses. Ou dos que você trouxe.

Prestou atenção aos livros que Valary disse, guardando-os em sua memória– era algo seu, a facilidade em armazenar informações atraves de associações, como que organizadas em uma grande biblioteca abstrata. O primeiro parecia interessante, e talvez pudesse considerá-lo um percursor das obras de Grigoriy Ríerekin no pós-guerra. O segundo parecia mais filosófico, mas Alex gostava se livros teóricos.

Foi só com a menção ao último que suas sobrancelhas se ergueram. Havia capturado seu interesse.

-Oh? Qual?- Indagou, intrigado com a possibilidade.

- Atualmente, esse é o problema. - ela responde, igualmente desanimada com a falta de respostas que tinha para oferecer para o colega. Mas precisava investir se queria a ajuda dele! - Achamos na biblioteca da capital, sem título ou autor e quando levei para Sra. Artwaltz ela mesma afirmou que não fazia parte dos arquivos da sua divisão, apesar de aparentemente ser o tipo de livro que caberia lá. Além do mais.. - ela continua, se aproximando e diminuindo o tom de voz, quase em um sussurro. - ... é tão criptografado quanto o Voynich.