Quando se fala no Reino de Loriath, o quem vem à mente da maioria das pessoas são cidades com altas muralhas, cobertas pela neve e castigadas pelo frio; quartéis e acampamentos onde são treinados os soldados mais preparados do Mundo Mágico, armados com tecnologia bélica de ponta; um povo disciplinado e patriótico com rígidas rotinas e padrões de comportamento, vivendo em ambientes cinzentos, estéreis e sóbrios. Um país em que as expressões artísticas não possuem lugar, e monumentos limitam-se aos grandes reis, vitórias e conquistas.
Embora sua produção cultural não seja tão proeminente no âmbito internacional quanto Ekalyon ou Tellius, a visão do reino nortenho como culturalmente estéril é completamente errônea. Pelo contrário, Loriath possui uma cultura rica e única, da qual seus habitantes possuem grande orgulho. Nada é mais típico do país que as intricadas tapeçarias, retratando figuras folclóricas e cenas históricas, tecidas por artesões certificados pela coroa. Contudo, dentre as tapeçarias destacam-se aquelas fabricadas por famílias que já estão no ofício há gerações, cobiçadas internacionalmente e segunda apenas às de Thyrmëinn com suas figuras vivas. O país também se destaca na produção literária, dando ao mundo grandes escritores como Dimitra Lavinsky, com sua exploração do bem e do mal, do terror existencial e do desespero humano, Fedyor Betzhuev, com seus romances focados nos modos e costumes da alta sociedade de Loriath durante o reinado de Tatiana I, usando de uma súbita ironia para criticar os excessos da época; o poeta e dramaturgo Matvey Velshnik, com o brilhantismo de suas comédias, tragédias e sonetos.
A pintura e escultura são menos expressivas, mas ainda encontram alguns mestres: na primeira, Savely Melikov com seus realistas e brutais quadros dos grandes momentos e batalhas de Loriath e Yana Neryshkina, uma das pioneiras das vanguardas que quebraram com o modelo clássico vigente, famosa por suas obras ora caóticas, ora melancólicas, ora felizes, em parte um retrato de sua luta contra o vício em drogas e a depressão. Na segunda, o clássico Mestre Terentiy, imortalizado pelas esculturas dos seis primeiros monarcas do reino na principal Praça de Harnov, de Ghanima das Voynartion e Niklaen Va Drasiya no átrio principal do quartel general do exército e a fachada do Grande Templo. Demoraria vários séculos para outro mestre escultor surgir em Loriath, uma mulher chamada Alina Glinarv que era uma mestra em esculpir o bronze. Glinarv, ao mesmo tempo em que exaltada por sua arte, recebe severas críticas por suas posições políticas: ela era ferrenhamente contra o governo, chamando de opressor e tirânico.
Loriath também possui um rico folclore, com seres e histórias únicas da região. Os domoviye são pequeninos seres feéricos, com orelhas pontudas e corpo coberto por pelos, que fazem seus lares atrás do fogão, ou abaixo da soleira da porta, e segunda a tradição toda casa possui seu próprio. São os guardiões dos lares, a quem os habitantes deixam leite, biscoitos, migalhas de pão ou sal em sinal de respeito: um domovoi ajudará nas tarefas domésticas se bem tratado, mas fará o exato oposto se irritado. A velha Likho, com seu véu ocultando um olho só, vista em uma encruzilhada e arauto do infortúnio, os pássaros de fogo que caso capturados podem conceder qualquer desejo. A Tsarina da Meia-Noite, Rainha dos Pesadelos, que atormenta os sonhos das crianças levadas e a sua irmã, a Tsarina do Meio-Dia, que lhes presenteará com um dia cheio de diversão e risos caso se comportassem. Contudo, talvez nenhum ser seja tão fascinante quando as Siraly, as Fadas da Neve: feitas de milhões de flocos de neve brilhando como pálidas estrelas, vestidas em tecidos brancos que guardavam a luz do luar, belas e delicadas, aparecendo como sombras quando há uma nevasca. Adultos e crianças olham por suas janelas, esperando um vislumbre dessas míticas criaturas.
Das várias lendas, nenhuma é mais conhecida do que a da pequena e corajosa Yesfir Alishkina e dos Sete Tsares. Quando seu irmãozinho despareceu de seu berço e sua mãe caiu nos braços da tristeza, a pequena Yesfir ajoelhou-se em frente ao fogão e chorosa, perguntou ao domoviye: onde estava seu irmãozinho? Quem o havia levado? Comovido com sincera tristeza e ingenuidade da menina, o pequeno feérico disse que quem o raptara fora o Tsar da Morte, e que seu reino ficava além de florestas e montanhas, de vales e lagos entre todo lugar e lugar nenhum. Yesfir fez colocou uma muda de roupas e pão num saco, calçou suas botas e saiu de sua casa para resgatar seu irmãozinho, encontrando em seu caminho cinco dos irmãos do raptor: o Tsar do Sal e a Tsarina da Água, a Tsarina da Meia-Noite e a Tsarina do Meio-Dia, e o Tsar dos Pássaros. Com sua coragem e inteligência, Yesfir passou por cada um deles, mas quando estava próxima ao lar do Tsar da Morte, ao chegar uma encruzilhada ela ouviu um choro vindo do caminho mais longo e o seguiu, encontrando um cervo ferido e ajudando-o para depois seguir seu caminho. Ao chegar ao lar do Tsar da Morte, Yesfir encontrou-o esperando ao lado de sua irmã e consorte, a Tsarina do Comprimento da Hora: o tempo passara, o tempo acabara; seu irmão para sempre fora do seu alcance estava. Chorou e implorou, contando que só se atrasara porque parara para ajudar ao cervo, mas o Tsar e a Tsarina balançaram a cabeça, e reforçaram que seu irmão não iria voltar. Entretanto, o cervo que ajudara adentrou ao salão, curado, e para o espanto de Yesfir tomou a forma de um homem. O último dos oito irmãos, o Tsar da Vida, e que por sua generosidade lhe permitiria levar o irmão de volta. E juntos eles voltaram, mãos em mãos, por florestas e montanhas entre todo lugar e lugar nenhum, para a mãe que os aguardava.
Em datas especiais, como nos equinócios e nos solstícios, Loriath irrompe em celebrações. Fogueiras são acesas em toda a extensão do reino, suas fumaças subindo aos céus e deixando-os cinza; homens, mulheres e crianças vestem as roupas típicas do país, trajes longos tingidos e bordados com cores vibrantes, vermelho, roxo, azul e amarelo, e saem de suas casas para comemorar nas ruas. As cidades são tomadas pela música, baladas e rapsódias, folclore transformado em letras e melodias, executadas por menestréis com suas flautas e balalaicas. Ao redor dos braseiros, pessoas mascaradas e fantasiadas como os personagens dançam as histórias, incitados pelo canto da multidão que circunda os espetáculos. Entretanto, quando a aurora começa a surgir no horizonte, pintando os céus de lilás, amarelo e rosa, Loriath é consumida pelo silêncio. As danças cessam, a cantorias para, e ao redor das fogueiras a população se ajoelha, mão unidas defronte ao corpo, rezando aos seus deuses pela prosperidade de sua nação e segurança de suas famílias.