Foram poucas as vezes que vira o Conselho tão tumultuado, tão
lotado. Olhava as tribunas e assentos dispostos, as pessoas sentadas, e podia reconhecer que quase não havia prepostos. Os donos das cadeiras compareceram em massa, mas não era surpreendente, não com os acontecimentos. Ao ver a expressão solene de Len ao tomar seu lugar no trono, sentiu uma faísca de orgulho: bom, não estava demonstrando fraqueza. Diante do escrutínio dos presentes, só uma brecha bastaria.
Tomando seu lugar, um trono pouco abaixo do dos reis, mas acima dos ministros e com uma bancada, começou a colocar ordem na Casa, mandando todos para seus devidos lugares e exigindo silêncio- parte do protocolo, e duvidava que fosse durar. Quando a situação aparentemente se acalmou, Hecate inspirou profundamente e preparou-se para o que viria.
- Senhoras e Senhores do Ministério, Senhores Embaixadores e Diplomatas.- Cumprimentou-os com tom de voz neutra, passando os olhos pela plateia que a assistia, atenta.- Nos reunimos aqui hoje para debatermos os acontecimentos da Noite Anterior, do ataque de origem desconhecida ao Arquiduque, e medidas para impedir que os eventos do ano anterior venham a se repetir. - Soltando o ar, ela ergue a cabeça, olhando para ninguém em particular.- Que se ergam, aqueles que tenham algo a dizer ao Rei.
Depois de atear fogo na palha antes do Rei, da Imperatriz e da Conselheira chegaram, Mariabelle tomara uma posição mais passiva, recostando-se no seu trono e ouvindo as discussões, quem poderia ser dobrado com facilidade, quem precisaria de um
incentivo extra. Alguns nobres haviam começado a discutir baixinho quem deles deveria ser o primeiro, fazendo-a semicerrar os olhos, apoiar a mão na sua bancada e com toda a graça se erguer.
Uma ocasião como essa merecia um figurino especial, uma roupa ou acessório qualquer
não funcionaria, não se quisesse causar algum impacto, e não lhe causava pouco orgulho que os outros ministros também soubessem. O vestido negro combinado com as joias de diamante, rubi e safira, além da bela tiara no topo do coque bem preso, a tornavam uma figura mais poderosa e intimidante do que já era.
- Conselheira Real, sua Majestade.- Cumprimenta-os com uma voz de soprano agradável, fazendo uma pequena cortesia a Len, como mandava o protocolo.- O Baile dos Embaixadores foi, certamente, um grande infortúnio, mas eu, assim como muitos outros dessa nobre casa, questionamos: foi ele um caso isolado, ou a culminação de algo que já se vinha se arquitetando?- Indagou, parando por alguns segundos por efeito dramático. Às vezes sentia-se como num grande espetáculo.- Desde o fim da ameaça de Near e da morte da Rainha Yuna, nosso país enfrenta o crescimento do crime organizado, de terroristas que por tantos anos ceifando vidas inocentes, aterrorizando nossa população
. E que ação vemos do nosso Exército, da nossa Conselheira Real, do nosso Rei? Novas Construções. Restauração. Sobre o resto? Promessas que não foram cumpridas,
ou apenas o silêncio. Que governo é esse, que coloca a segurança de lado, que lança festas e eventos como se tudo estivesse bem,
como se membros dessa tão nobre casa não houvessem sido brutalmente assassinados?- Ao redor, cabeças concordavam: homens e mulheres ali presentes haviam perdido suas famílias, e queriam vingança.
Ao terminar, ela voltou a sentar-se, colocando o cotovelo sobre a bancada e apoiando o queixo com as duas mão entrelaçadas. Não precisava que o Rei fosse fraco, só precisava pintá-lo como tal,
fazer com que os nobres enxergassem como tal, e havia outros meios de fazer isso que não abertamente. Não duvidava que o garoto poderia vir a ser um bom rei - embora tinha certeza que seus ancestrais estariam se revirando nos túmulos de terem de se curvar a alguém que não aos descendentes de Adonai, ela bem sabia que a mãe detestava - mas não naquele momento.
Ekalyon precisava de um Rei, e Len Branthése não possuía a experiência necessária para sê-lo.