Jardins de Antheia

Ao ouvir Asgeir, ele volta a realidade da qual tinha se distanciado rapidamente, quase dando um pulo com um susto e corando com a brincadeira dele.

- Não, não! De forma alguma! - Ele diz, embolando um pouco as palavras.

Ele abre um sorriso, divertido com a reação.
- Estou só pegando no seu pé. - ele afirma, tentando deixar Reinier mais confortável. - Quando ao onde realizam as homenagens, é só seguir em frente. Logo iremos começar a ver os arbustos nos quais as flores estão.

Ele solta um suspiro, levemente aliviado.
- Eu nunca vou me acostumar com isso.- Ele diz baixinho, e continua a andar na direção que Asgeir indicara.

Ele tenta se forçar a ouvir o que Reinier disse, mas como não conseguira decifrar tudo completamente prefere continuar a andar quieto, sem se meter no assunto - talvez fosse mais educado daquela maneira, ainda que a ausência de um assunto para se comentar o fizesse ficar desconfortável.

Ele continua adiante, através do arco com o símbolo dos Branthése, e logo prende a respiração ao ver o que estava diante de si: arbustos esbranquiçados cobriam o local, cheio de flores em tons de roxo, lilás e rosa, crisântemos, ásteres, hidrângeas, anêmonas, centáureas, rosas, jacintos - era uma profusão de tipos conhecidos, cuidadosamente ajustados, e pelas paredes da estufa subiam vinhas de um verde pálido, e no teto, pendiam copos-de-leite roxos, cada um como um lustre segurando uma luz mágica, que dava ao lugar uma aparência etérea.
- Isso é fantástico! A quantidade, a ornamentação, os tipos!

Ela sorri com a reação de Reinier, ainda que fosse com um certo tom melancólico: o pequeno recanto era lindo, com certeza, construído de maneira cuidadosa e requintada, além de tentar transpassar em sua estrutura o que a rainha havia sido enquanto viva. No entanto, aí estava a questão: Yuna estava morta, e por mais lindo que o jardim fosse, havia deixado cicatrizes que meia dúzia de flores não poderiam sanar.
- Não é verdade? É interessante apontar que mal existem despesas com a manutenção, a própria população tomou para si a tarefa.

Ele sorri com o que Aniya disse.
- Ela deve ter sido uma rainha muito amada, então.- Ele fala e aproxima-se de um dos arbustos cheios de hidrangeas, passando a mão sobre elas.

Ela assente.
- A Rainha Yuna... Bem, a grande questão sobre ela era que ela se importava, e não tinha medo de demonstrar isso. - ela começa a dizer. - Por mais que fugisse do protocolo ou que parecesse agir sem fundamento ou superficialmente, tudo isso só tornou ela mais próxima dos cidadãos, e não uma imagem idealizada.

Ele balança a cabeça e fica pensativo.
- Não tenho certeza se, em Ralion, essa mesma atitude a tornaria popular. - Ele comenta distraidamente, enquanto passa a mão sobre as flores.- Especialmente por conta do gênero.

Ela olha para Reinier e franze o cenho repentinamente.
- E qual o problema? - ela questiona, com as mãos na cintura, enquanto o irmão simplesmente suspirava logo atrás.

Ele lança um olhar confuso para Aniya, como se quisesse dizer "Você não sabe?" e ao perceber que não, ela não sabia, ele limpa a garganta e olha de um lado para o outro antes de falar.
- A sociedade de Ralion possui valores diferentes daqui. E contrasta, especialmente, com Tellius no aspecto dos gêneros. São praticamente antagônicas. - Ele fala e inspira profundamente.- Uma mulher sofreria muito mais pressão do que um homem no poder, e esse tipo de atitude, que já seria mal vista em um homem, refletiria ainda pior em uma possível Rainha. - Ele termina de falar, e olha para Ásgeir como se pedisse socorro.

Ela abre a boca para responder alguma coisa, mas só de olhar para o irmão ela desiste e simplesmente cruza os braços, com o rosto levemente vermelho - fosse por frustração, ou por vergonha. Na verdade, ela também não seria apropriada?



- Bem... - ele começa depois de um pigarro, frente ao clima ligeiramente tenso. - Vejo que a noite já está caindo sobre nós, e estender a visitação acabaria sem sentido: dos lugares que propomos visitar, praticamente tudo já foi visto. - ele continua, tentando apelar para a razoabilidade. - Quanto ao museu, não duvido que haverão mais oportunidades para exposições mais interessantes.

Ele balança a cabeça freneticamente, concordando com Asgeir.
- E vocês também precisam de um tempo para se arrumarem. Não quero que passem qualquer tipo de vergonha por minha causa.- Ele diz rapidamente.

Ele assente com a cabeça e então saem dos jardins, refazendo o caminho até a escola.

Ele vai logo atrás deles, dessa vez tomando cuidado para não tropeçar.