Zona de Dragologia

A Zona de Dragologia era peculiar, e impressionante o suficiente para fazer os alunos olharem ao redor, surpresos, e até um pouco assustados, por um motivo deverás simples: consistia na parte superior de um dragão, se era o mesmo ou partes, não sabiam ao certo, mas qualquer coisa com um esqueleto daquele tamanho era perturbador. A coluna espinhal corria ao longo do teto, sustentada pelas costelas, presas ao chão, e entre elas, basalto escuro e esculpido e com detalhes acentuados com tinta clara. Ao fim da Zona, por detrás da banca da professora, a cabeça abria-se, e entre os dentes havia vidro, formando uma janela, e cortinas presas nas laterais. As bancadas eram dispostas no comprimento do local, e as várias luzes artificiais deixavam a Zona em uma claridade aceitável, além de ser refrigerada, aliviando o calor que seria se não fosse.

Trajando as mesmas vestes de antes enquanto interrompera a aula de magia antiga, ela adentrou na sala seguida pelo restante dos alunos que corriam para arrumar um lugar o quanto antes. Se alguns se davam ao luxo de estarem assombrados pela simples decoração, era porque não conheciam a própria professora.

- Arrumem a postura, não vou admitir desleixo em minha disciplina. - o tom cortante característico fez alguns alunos piscarem antes de obedecerem. Oras, estavam em um quartel agora?! - Lestari Eirligen. - ela anuncia seu nome. - Aos alunos antigos, suponho que já devam imaginar o motivo de eu estar aqui: venho substituir a antiga professora de Dragologia que os acompanhava; aos novos, espero que estejam dispostos a acompanhar a matéria.

Ele, que estava com os pés em cima da mesa, logo se coloca a uma postura respeitável, mas não estava feliz com isso- ia acabar com as costas doendo se ficasse tão ereto.

"Melhor assim" ela pensa, ainda que a expressão ainda estivesse fechada. Com um movimento da mãos que não a estava apoiando sobre a mesa, a iluminação foi diminuindo, como se o crânio da criatura começasse a se fechar para impedir a passagem da luz. Na altura do teto, 6 pedras descendem lentamente até ficarem na altura dos olhos da professora, com pequenas chamas cintilando em seus interiores cristalinos: uma carmesim, seguida por ciano, preta, púrpura, esmeralda e prateada.

- Vocês se ocuparam de ver no primeiro ano a estrutura básica de um dragão: como produz e é capaz de soltar fogo, a utilidade e propriedades de suas escamas, as diferenças básicas entre as espécies dos chamados Répteis Colossais, entre outros detalhes. - ela começa, agora fitando as pedras que pareciam prender a atenção da turma. - Agora, sou encarregada de ensinar a vocês as diferenças entre os próprios dragões e, especialmente, como lidar com isso. Essas pequenas amostras são apenas um exemplo do número de espécies com as quais iremos lidar neste ano. - ela continua. - Não lhes apresento pedras, ou se preferirem cristais comuns: são prisões de difícil produção, e dentro de cada uma delas está capturada a chama produzida por algumas das mais marcantes espécies de dragões.

A didática de Lestari era diferente de Aenya, a Gaerntheon era mais descontraída, mas não era algo que particularmente a incomodasse. Estava com a caneta em punhos e o caderno aberto, pronta para anotar os pontos mais relevantes de Aula da Eirligen, enquanto os olhos não desviavam da professora.

As pedras se movimentam para a frente na direção das carteiras dos alunos, chegando a arrancar de alguns uma lufada de ar pelas propriedades desconhecidas. Diante da mesa de seis alunos ela repousam: Leonard, Reinier, Francis, Heléne, Layna e Aoshi, e parece que as chamas se aquietam um pouco dentro das pedras, mas não o suficiente para serem extinguidas.

- Os que receberam os receptáculos devem se organizar em quatro duplas e dois trios, que serão apresentados na próxima aula. Quero evitar que confrontem a primeira lição individualmente, e a partir dela iremos prosseguir com nossas aulas. - ela anuncia, causando um burburinho entre os alunos, mas que logo se cala diante da expressão da professora que não havia terminado de falar. - As seis principais ramificações das espécies de dragões são distintas pela natureza e propriedade de suas chamas, obedecendo: fogo vermelho, o mais comum dentre eles, fogo selvagem, fogo negro, labareda-da-noite, fogo púrpura e fogo verde. O desafio de cada grupo para a próxima aula será controlar e apagar uma dessas chamas... Após quebrar apropriadamente seu receptáculo. - ela termina de falar, voltando-se, enfim, aos alunos. - Alguma dúvida até então?

Ao receber o receptáculo azulado, Reinier engoliu em seco, olhando ao redor. Como não houvera apresentações- ainda, era só uma questão de tempo- não precisava se preocupar com os que lhe comparariam ao irmão ou se aproximariam pelo sobrenome. No entanto, a ideia de que teria de se aproximar de alguém e oferecer para ser dupla não era exatamente agradável, especialmente por que era péssimo em interações: e se falasse alguma besteira, Deuses?

A pedra púrpura parou em cima de sua mesa... para sua decepção. Não tinha ideia das distinções que existiam, mas não poderia ter ficado com a verde? Combinaria com seus olhos e tudo mais. Chegou a cutucar a superfície cristalina, querendo ver alguma reação da chama aprisionada, mas o olhar pasmo de Clarisse serviu como um claro aviso de "não mexa nisso!", mesmo com algumas cadeiras de distância.

- O que quis dizer com "contê-las", senhora Eirligen? - ele questiona.



A pergunta fez brotar a sombra de um sorriso em seu rosto, ainda que não mais do que por alguns segundos. Parte de sua fama era exatamente a de não sorrir, e também não gostava de tirar prazer da ingenuidade dos alunos - com cadetes do exército? Ah, isso era outra história.

- Como espero que se ponham a pesquisar, vocês vão descobrir que nem todas as chamas que têm consigo serão simplesmente apagadas com um balde de água. Uma vez libertadas, avaliarei sua estratégia para impedir que elas venham a destruir a sala ou machucar seus colegas. - claro, ela estaria por perto para impedir qualquer dano, mas não podia assegurar que seria tão fácil com o fogo selvagem ou o fogo negro.

Ao ver o cristal platinado em sua frente - que ele não tocou por ter um mínimo instinto de autopreservação- não conseguiu esconder um sorriso. Aparentemente, a aula não seria nada entediante, e ele adorava a noção.

O cristal negro que repousava sobre sua mesa contrastava com a palidez que tomou conta de seu rosto, os olhos abertos em uma expressão de surpresa e assombro. Ela levantaria a mão para pedir para trocar com alguém, ou simplesmente trocar de posto, mas tinha certo receio de se mover: era indiscutível que aquilo se tratava de fogo negro, e precisaria ter muito cuidado para manejá-lo.

-... Nós podemos tocar nesses cristais normalmente?- Ele indaga enquanto olha para o cristal alaranjado em cima de sua bancada.

- Eu tomei o cuidado para não ser tão instável assim, jovem de Morcef. - ela responde, observando o suspiro de alívio sair da boca da maioria dos alunos, especialmente daqueles que receberam as chamas. - Não precisam me notificar das duplas e grupos, contanto que absolutamente ninguém falte na semana que vem para cumprir esta tarefa. Os que não conseguirem formar grupo certamente o encontrarão no dia da avaliação. - a palavra fez alguns estudantes pensarem em saltar da cadeira, mas o tom nada amigável da professora afirmava que: não estava brincando e que nem sequer tinham chance de vencer uma discussão.



Ela observou atentamente a pedra azul que descansava à sua frente, aproximando-a do rosto com cuidado, mesmo depois do anúncio relativamente tranquilizador da professora - pelo que entendia, significava que teriam mais trabalho para quebrar o recipiente. A pálida chama azul-celeste era a menos calma dentre as outras, errática e inquieta dentro da prisão cristalina, indicando que não teria uma tarefa fácil pela frente.

Ela solta um suspiro aliviado com a afirmação da professora, trocando um olhar com Leo que basicamente dizia "Agora pode tocar". Reconhecia algumas pela cor, mas outros ela não fazia a mínima ideia do que significavam. Deveriam pesquisar em livros, ou talvez perguntar a Aegon ou a Dany, já que eles provavelmente saberiam responder.

- Como imagino que todos vocês já devem saber, perto do final do semestre nós teremos os Jogos entre as turmas da escola. Assim como todas as outras matérias, Dragologia também lhes apresentará como uma vantagem em meio ao campo de batalha em que se encontrarão. - ao pensar em como a turma iria ao campo ela pensou em como isso, na verdade, era um completo desperdício: todos os estudantes deviam ser avaliados em combate, este sendo seu curso ou não. - Mas porque dragões merecem uma matéria específica, ao invés de serem incluídos no programa de Criaturas Mágicas como a maioria das outras? Bem, eles simplesmente não são como as outras criaturas. Para além da diversidade de espécies, vocês já devem ter aprendido, ou então já devem ter ouvido falar dos Draconianos. De forma distinta das outras raças e criaturas, para além de apresentarem consciência, dragões foram capazes não de formar sociedades, mas de ter aquelas que se ergueram à sua sombra, não se limitando apenas ao mundo mágico: o mundo humano é repleto de relatos da presença deles, ainda que, para eles, não passem de contos fantásticos que nada tem a ver com a realidade na qual vivem.

Ela anota os pontos mais relevantes do pequeno discurso de Lestari, em especial sobre o que diferenciava os dragões das outras criaturas mágicas e sobre a sociedade- poderia ser útil para o que Andrew pedira em sua outra aula.