Sentado em uma das confortáveis poltronas da antessala, em um aparelho translúcido Gavin lia as notícias que chegavam da festa, os comentários sobre a decoração, os convidados, a preparação e o serviço. Aparentemente, tudo fluía com tranquilidade, mesmo o trânsito, o que, para si, era um alívio, já que sairia um pouco além do horário que estabelecera a si mesmo. Descumprir horários e chegar nada mais nada menos do que no horário ideal num evento de tal partia não era de seu feitio, e se tivesse outra escolha não o teria feito.
Contudo, Ireyne estava doente e teve dificuldades para respirar pela tarde, e como tal, sua arrumação requeria mais tempo e maior cuidado por parte dos especialistas, além de um médico para vir observá-la e lhe dar um remédio que garantiria que ela ficaria bem para a noite. Gavin insistira que ela permanecesse em casa, iria sentir a falta dela ao seu lado, porém antes isso do que colocar a saúde dela em risco. No entanto, nesse ponto Ireyne estava irredutível e conseguiu convencê-lo do quão inapropriado e descortês seria com os anfitriões, além de outros detalhes a mais que convenceram-no a levá-la. Em alguns casos, a esposa poderia ser tão cabeça-dura quanto a filha mais velha.
Soltou um suspiro pesado ao lembrar dela. Erin estaria no baile junto ao príncipe e ele sabia muito bem que
não seria possível evitá-la, mesmo que por um breve cumprimento. O mundo podia saber que a relação entre eles não era extraordinária, mas necessitavam dessas demonstrações públicas. Gavin só esperava que ela agisse de acordo com a sua posição.
Ouviu passos vindos da escada e deixou o livro de lado, erguendo-se e arrumando o paletó tradicional vermelho, com o colete e a gravata da mesma cor, presa com um broche de águia de ouro maciço e olhos rubis, além da camisa branca por baixo. Das escadas Ireyne descia, bonita mesmo com a idade pesando sobre seus ombros, o cabelo no tom de mel dourado com fios brancos presos em um coque, com formosos cachos caindo ainda pelos seus ombros. Os olhos azuis brilhavam como os céus do verão nas montanhas da Ralion.
Ele ofereceu a mão ara ajudá-la a descer e ela graciosamente aceitou, terminando a descida e continuando andando em direção a saída.
-Tem certeza de que não prefere fira em casa, Reyne? - Ele indaga quando atravessam a soleira da porta, parando diante da última escadaria que levaria ao carro negro esperando por eles.
[IREYNE]
Se comparados a muitos dos outros nobres que estariam presentes no castelo, muitos diriam que Lady Harway fora modesta na escolha de seu vestido, quando tinha o dinheiro para usar o mais exuberante da festa. O corpo de seu vestido era feito com seda vinda direta de Yen'Darin, em dois tons de vermelho. Um, mais vivo, cobria a parte de cima de seu torso, alcançando a metade da canela, onde flores foram intricadamente bordadas com fios de ouro e algumas pequeninas pedras de rubi, parecendo de fato uma fita, e uma idêntica rodeava a borda de sua saia. O tecido da manga era translúcido, bordado com dourado na ponta, em florais.
No entanto, o que fazia o vestido se destacar era o bordado que cobria seus ombros, feito em V, e, na ponta do V, conectava-se por uma fina passagem por a um cinto em forma de bordado. Todo feito com fios de ouro, mostrava flores e pássaros, decorado com pequenos rubis. Seus brincos eram simples, folhas douradas com um rubi na ponta, e a maquiagem era leve e apropriada para sua idade.
- Eu sou grande o suficiente para me cuidar, Gavin. - Ela afirma amavelmente, apertando o braço do marido.- Não precisa se preocupar comigo, querido.
Com um último suspiro resignado, Gavin conduziu Ireyne para o carro, e logo mais entraram, partiram em direção ao castelo.