Lyzz e Aniya

- Por quê não pergunta se eles precisam de ajuda, ou algum favor? - ela diz, lá de dentro do banheiro. Enquanto banhava-se, ela já passava loções perfumadas no corpo e penteava o cabelo molhado, preparando-o para quando fosse passar um produto para hidratá-lo e deixá-lo lustroso, de uma pequena embalagem vinda de Aurelis.

"Não é só porque eu estou me arrumando de última hora que preciso parecer que fiz isso."

Ela solta uma gargalhada com o que Aniya falou.
- Você não falaria isso se conhecesse minha mãe.- Ela diz, balançando a cabeça.

Ela sai do banheiro trajando um roupão branco felpudo, com um pequeno brasão com suas iniciais bordadas na altura do peito. O cabelo ainda estava visivelmente úmido, mas era estranho, como se ele estivesse se secando e se penteado sozinho, sem que ela levantasse um dedo para interferir. Mais um dos efeitos do hidratante importado, uma compra feita por sua mãe que, acima de todos, reconhecia a tendência da filha de decidir se arrumar na última hora e, não conseguindo mudar esse comportamento, pelo menos tentava amenizar as consequências.

- Nunca afirmei que você precisava fazer essa tarefa sozinha, e não duvido que uma ou duas pessoas estejam dispostas a te ajudar. - ela diz. - Ou a concordarem em te ajudar. - ela responde, com um sorriso. - Assim, você evita o castigo e, quiçá, tenha algo para ocupar o tempo ao invés de... estudar, sabe?

Em seguida ela vai para a penteadeira e tira um kit de maquiagem de entre suas coisas, começando a separar sombras, bases e pincéis que iria utilizar para fazer a maquiagem.

- Aliás, preso ou solto? - ela pergunta para Lyzz.

Ela abre um sorriso de lado com o que Aniya disse, lembrando-se do que tivera de fazer com Valary, Axel e Lotti.
- Eu tive que fazer algo assim ano passado. Foi, no mínimo, divertido. - Ela diz e se espreguiça-se, sentando-se na cama e observando Aniya.- Acho que ficaria melhor solto, mais natural.

Os comentários de Lyzz a fizeram abrir um sorriso, divertida. Pensava no quanto havia perdido, relativo a esse tipo de convivência, desde o sumiço de seu pai. Sentia saudade desse ar de locais públicos - não, cheios de vida, que contrastavam com a monotonia das agendas que tinha em casa. As únicas vezes que ela e o irmão tinham a possibilidade de sair de casa era em eventos como o tal baile, e olhe lá.

Recebeu a resposta sobre o melhor tipo de penteado e olhou-se no espelho, juntando algumas mechas de cabelo de diferentes formas em busca de alguma ideia, ou mesmo iluminação divina que lhe ajudasse. Optou por tentar um "meio" coque: parte do cabelo estaria arrumada atrás da cabeça, em um enfeitado aglomerado, enquanto as pontas e o resto dos cabelos cairiam pela altura dos ombros.

Assentiu, determinada, e começou o trabalho vendo que o cabelo já estava seco. Uma leve passada do baby-liss o deixaria mais definido, além de disfarçar o quão liso era. Depois disso, trabalhou em montar o penteado, usando pequenos grampos com pérolas brancas e pedras de turmalina para manter as mechas arrumadas no coque, enquanto penteava mais uma vez as ponta do cabelo que caíam pelos ombros. Uma pequena franja se dividia ao centro da cabeça e emoldurava o rosto.

Ela bate palmas para Aniya, admirada.
- Olha, é mais do que conseguiria fazer sozinha! Eu só sei passar chapinha, secar, baby-liss, prender num rabo de cavalo e um coque simples.- Ela demonstra, fazendo um coque como se desse um nó no próprio cabelo loiro.

- Bem, considerando que metade desses equipamentos são mágicos, eu preciso admitir que não passo muito do básico também. - ela responde, simplesmente feliz por ter manejado algo decente. Estava fofinho, para falar a verdade. O coque redondo atrás da cabeça estava enfeitado, e os cachos imperfeitos caiam sobre os ombros.

A maquiagem seria o próximo passo e, a considerar o vestido, ela pensou em se dar uma pequena margem de liberdade. Começou por uma base simples, da mesma cor da pele para corrigir as marcas e unificar tudo, prosseguindo para acentuar partes pontuais como a raiz do nariz e diminuir o tamanho da boca a partir de contornos simples. Era o que conseguiria fazer. De seguida, sua parte preferida: a sombra. Nem sequer pensou em passar um lápis para ressaltar, seus cílios grandes, quando tratados, já dariam conta do recado. Começou por passar uma leve cor próxima ao prata abaixo dos olhos, e em seguida fez um belíssimo degradê que ia do lilás ao turquesa em sua pálpebra. Por fim, a máscara mais puxada para o marrom do que o preto nos cílios os destacavam, suavizando o jogo de cores.

Se olhou no espelho mais uma, duas, três vezes virando a cabeça de lado. Estava mais do que feliz com o resultado, mas podia apostar que ainda levaria broncas de sua mãe por "poder fazer melhor". Podia era a palavra chave. Se levantou e foi colocar o vestido.



Uma peça ricamente trabalhada, sua principal cor era o lavanda. Em uma primeira camada o vestido era mais puxada para o transparente, com uma parte superior em corte bateau e pequenas mangas, era recheado de áreas em que as pedras de turmalina e, especialmente, tanzanita. Era um desenho lindo e brilhante, e contra a luz emitia outros diversos tons de cores. Na segunda camada de tecidos estava propriamente a seda em lavanda, atravessando sobre a parte superior em um estilo similar ao greco clássico de Ekalyon. A saia se abria na altura da cintura em um "A", seguindo o mesmo padrão intricado da primeira camada.

Ela arregala aos olhos ao ver Aniya, mas logo em seguida abre um largo e brilhante sorriso.
- Está maravilhosa!! Sério, que vestido lindo, e olha que eu não sou fã de vestidos!- Ela diz, encantada.

Ela abre um largo sorriso ao ouvir o elogio, virando-se para o espelho e girando para ver o movimento da saia.

- Achou mesmo? Não pensei que a cor cairia bem, mas fiquei encantada quando o encontrei. - ela admite, ainda sorrindo. - Bem, vamos terminar logo, antes que meu irmão morra de vergonha de ficar plantado no pátio esperando.

Dizendo isso, ela abriu uma caixa e dela retirou uma belíssima tiara prateada que se abria em pequenas pontas no topo, com pedras de opala entre cada "espinho" que saltava. Era uma peça antiga e delicada, apesar de não ser luxuosa: datava dos primórdios de sua casa, um presente que fora confeccionado para Iselyn Alterèsia ao se juntar a família. Em seguida, ela prendeu na lateral da cabeça, em um ponto onde a a tiara acabava, um pingente em formato de meia lua cravejado de joias que reluzia contra a luz. Um toque pessoal sempre era bem vindo em eventos assim, e a peça em questão era um presente que seu pai havia mandado confeccionar quando nascera, e por muito tempo ficou enfeitando a sua manta de recém-nascida.

Por último, ela pôs dois brincos simples em formato de gotas, contendo cada um uma pérola, além dos sapatos em lavanda consideravelmente descoloridos e de saltos baixos. Não, ela não ia se arriscar.

Ela solta um assovio quando Anita termina, e se levanta.
- Está ótima! A tiara me lembra algumas das jóias da minha família.- Sorri nostálgica ao lembrar de sua bisavó. Era verdade que Lyzz nunca se interessara pelo assunto, mas Aselia Artwaltz sempre falava das relíquias com carinho.

- Verdade? - ela pergunta, sorrindo surpresa. Não havia passado por sua cabeça que Lyzz teria uma história assim, mas bem, qualquer um que olhasse para ela podia dizer a mesma coisa. - Vou querer ouvir mais sobre isso quando voltar, a não ser que ache um saco.

Ela diz e pega uma pequena bolsa, levantando-se rapidamente.

- Agora preciso ir, ou não há desculpa que me salve. - ela diz e sai do quarto em grandes passadas, pouco se importando em ser graciosa.

-Boa sorte!- Ela diz em voz alta, soltando um suspiro e voltando a cair na cama.- Quais jóias falar que não faça minha família parecer um bando de psicopatas?- Ela pensa, assoviando baixinho.

Ela acorda, mas demora-se na cama, preocupada em espreguiçar-se para o dia que se iniciava, e desejando que ainda tivesse mais algumas horas para descansar. Ou o dia inteiro, ou a semana inteira. Um suspiro derrotado a anunciou enquanto acordada, sem interesse o suficiente para sair da cama ainda.

O seu despertador toca, espalhando as familiares notas de Highway to Hell, revirando-se na cama, bufando e revirando-se, e ficando de costas para cama.

- Argh, manhãs. - Ela diz com um suspiro frustrado, fechando os olhos e concentrando-se na música, esperando que lhe desse coragem para se erguer e começar o dia.

- Nem fale. - ela comenta, olhando para a janela e a luz que entrava por ela, indicando o novo dia que começava, além dos sons de pessoas saindo de seus quartos conversando enquanto iam na direção do salão de jantar. - Por quê, sei lá, eles não fazem um horário noturno? Não, também seria péssimo. - ela sugere, fazendo uma careta.

Passados alguns vagarosos minutos, ela enfim se levanta e começa a separar uma roupa. Optara por uma longa blusa de tricot branca, em que o trabalho era largo o suficiente para se fazer fresca e adequada para o dia, junto de shorts jeans e um top amarelo por baixo da blusa.

- Sério? Eu ia adorar. - Ela comenta. Considerando as origens dos Artwaltz, não era de surpreender que eles, no geral, funcionassem de forma mais eficiente à noite, ou na escuridão. Com um último suspiro de alguém que acha que o mundo está acabando, ela se levanta, indo separar uma roupa: uma saia de com o café xadrez blackwatch, uma camiseta social de manga curta branca, um colete e sapatilhas pretas, além do cinto de tachas e a pulseira.

Enquanto Lyzz separava uma roupa, ela já entra no banheiro e se apronta com uma ducha rápida. Saiu já vestida com o que havia separado, mas com a adição de um laço de cetim na boca enquanto usava as mãos para prender o cabelo em uma trança elaborada.

- Qual sua primeira aula de hoje, por acaso?

- Defesa e depois liberdade, graças aos deuses! - Ela afirma entrando no banheiro e ligando o chuveiro. - E a sua? - Gritou para que Aniya a ouvisse.

Pouco tempo depois, saiu já vestida, indo até o armário atrás dos acessórios, as pulseiras, os colares a pequena fita com uma presilha de lua de strass para amarrar a trança que fazia.

- Não tenho certeza, ainda não decorei o horário. Apostaria que ou Educação Física, ou Teoria da Estratégia? - ela aposta, remexendo entre suas coisas até achar um papel completamente dobrado em um dos bolsos da frente da bolsa, onde seria mais fácil achar em caso de momentos de necessidade como esse. - E... nenhum dos dois. Ataque, de novo! - ela responde, imaginando que tipo de exercício estaria à sua espera.

[Lyzz]
- Veja pelo lado bom, não é Magia Antiga! Ninguém merece Magia Antiga na primeira aula.- Disse com um suspiro dramático. Ou melhor: ela não merecia Magia Antiga na primeira aula e o olhar de ferro da mãe indagando silenciosamente se ela havia feito os exercícios.- Olha, eu vou indo, quero ver s meus primos já voltaram! Te vejo na sala de jantar!- E com um aceno, ela sai.

Ela ri com o comentário e acena e termina de separar suas coisas, terminando enfim de se arrumar e saindo logo depois.

O despertador tocou exatamente na hora certa, e Lyzz grunhiu, rolando e ficando com a barriga contra a cama. Mesmo acordar ao som de Hunting High and Low não lhe dava a mínima motivação de se erguer para ter aula de Oclumência e Legilimência. Se fosse à tarde, estaria um poço de animação. No entanto, os deuses decretaram que não seria uma pessoal matinal, e ali estava, enrolando para se levantar. Por que não poderia ser mais como a mãe, o pai e o Demyan? Tornaria a vida tão mais fácil!

Com um suspiro pesado, se levantou, abrindo o armário bagunçado e catando um par de jeans rasgados, uma blusa customizada preta de Darkside of the Moon e os sneakers, entrando no banheiro e se trocando: deuses abençoassem banhos noturnos para salvar o trabalho de manhã! Penteou o cabelo rápido e prendeu-o num rabo de cavalo baixo, indo separar as coisas para o dia.