Estendendo-se por uma longa dimensão de montes nevados, campinas verdejantes e rios calmos, Mellionór é o maior e mais belo mundo dos mundos sobre a influência de Eslien. Entretanto, por essa mesma razão, é também o que mais enfrenta o poder de Lasher, dos demônios e criaturas sombrias que espreitam nos limiares do mundo. Toda criança de Mellionór, mágica ou não, é ensinada desde cedo a temer a escuridão, a repudiar tudo aquilo que Lasher representa, e embora os ideais que regem o mundo façam-no parecer uma utopia, está longe de o ser. Governado por três príncipes eleitos pelo povo, chamados de Triarcas, o governo advoga a justiça, a igualdade entre todo e qualquer cidadão,e a segurança da população; no entanto, o modo como atuam é autoritário, quase marcial, e o povo aceita e obedece as regras impostas. É uma questão de necessidade, e foram só pela união e pela dura disciplina militar que Mellionór conseguiu revidar todo e qualquer ataque as suas fronteiras. Toda criança mágica é entregue aos Triarcas e criadas desde jovens para servirem nas fronteiras de Mellionór, na tropa de elite chamada de os Paladinos, a primeira e última linha de defesa contra todos os perigos que habitam o universo afora. São tropas disciplinadas e brutalmente eficientes, criadas para pensarem no geral em detrimento do particular, para agir, obedecer e não duvidar. Corrupção é sinônimo de pena de morte para qualquer um dos envolvidos, e não pelas mãos da alta patente, mas pelos próprios membros da tropa. Foi nesse mundo que Maegelle nasceu, e, como portadora de magia, se tornar uma paladina sempre foi seu destino.
Desde que se lembra, Maegelle esteve com os Paladinos, e enquanto crianças passam sua infância brincando e despreocupadas com o mundo, ela passou a sua em um intenso treinamento, horas por dias, para chegar ao ápice da resistência física, mental e espiritual. Não havia dia mais fácil que o outro, e o único modo de desistir era a morte. Aos doze anos, Maegelle já era um membro de uma das forças mais letais do universo, e embora não todo dia enfrentassem uma das monstruosidades de Lasher, viviam em eterna guarda. Pelos seus poderes, ela atuava como uma dos mensageiros entre os regimentos, e sua missão era levar as mensagens adiante a todo custo. Era a mesma rotina, sempre, e algumas vezes o grupo de mensageiros lutava contra algum demônio que tentava interceptar as mensagens. Era um dia como qualquer outro na fronteira quando tudo mudou para Maegelle. No limiar entre as dimensões, duas criaturas de imensos poderes se materializaram, seres que nenhum regimento dos Paladinos sonhara em enfrentar, pelo menos não ao mesmo tempo: Malphas, o Corvo, e Naleph'y, o Tirano, dois demônios da alta hierarquia de Achroth. Quando o primeiro regimento foi atacado, Maegelle e seu grupo estavam presentes, e foram prontamente dispensados para alertar o segundo regimento. Entretanto, no meio do caminho, eles foram interceptados por outro demônio, uma de sorriso frio e de aspecto cadavérico, sobre quem todos eles já tinham ouvido falar sobre: Sith, o Flagelo, outro demônio de alta hierarquia. Mesmo com todo o treinamento, Sith era uma força que eles não esperavam, nem estavam equipados o suficiente para enfrentar. Engajaram num combate, mas logo ficou claro quem tinha a superioridade, e um a um eles foram caindo, até que só sobrou Maegelle, a líder da tropa, que em todo seu ressentimento pela morte de seus companheiros enfrentou o demônio com força renovada. Contudo, para cada força e ponto fraco que achava, Sith se recuperava, e no fim subjugou Maegelle, só não a matando porque, no momento em que ia desferir o golpe final, uma luz brilhou na fronteira, forte e intensa. Ali, do mesmo lugar de onde os demônios haviam surgido, Eslien se manifestou em toda sua glória, forçando os demônios a fugirem de Mellionór se quisessem permanecer vivos e curando a terra por onde passava. Ela levantou os soldados feridos e reconfortou as almas dos mortos, para em seguida reergueu a barreira entre o mundo e a fronteira, e por um tempo permaneceu naquele lugar, ajudando o governo e a população a se reerguer do pior massacre desde a Guerra do Sangue.
Para Maegelle, em particular, esse período foi devastador, pois apesar da presença reconfortante de Eslien, estava profundamente abalada pela perda de seus companheiros, sentindo-se perdida, confusa, com o sentimento que falhou em seu propósito. Foi nesse momento que a carta chegou a Seraphium, e pela primeira vez ela sentiu-se tentada a aceitar a proposição, mas hesitava profundamente em deixar seu lar. Para o espanto de Maegelle, foi a própria Eslien quem se aproximou dela, e, olhando-a nos olhos, disse para ela ir. A Trono acalmou suas dúvidas, e a assegurou de que, quando seu dever em Seraphium estivesse terminado, as portas de Mellionór sempre estariam abertas. Maegelle, então, aceitou seu novo dever, e prometeu que, dessa vez, não falharia.