Museu de Heracles

Ele segue-os para fora do museu, dando um último olhar na pintura antes de sair.

Diferentemente do que se poderia pensar, a capital não parecia nada menos vazia do que o normal pelos eventos da noite anterior, se duvidar, era exatamente o contrário: as pessoas estavam mais agitadas, andando pelas ruas freneticamente. A parte boa era que dois estudantes podiam passar despercebidos.

- Podemos voltar depois do almoço, se quiser.- ele sugere, enquanto entram para a segunda área da construção. Se a primeira estava ocupada exibindo a história dos Branthèse, além de outras coleções, a segunda área era mais um laboratório, com espécimes de animais e plantas à mostra.

- Seria bom.- Ela afirma, inclinando-se para melhor observar uma rara amostra da astralis rheasien com suas pétalas brancas acentuadas por cores que mudavam de acordo com a luz do display. Naturais das matas primevas e praticamente intocadas das terras altas de Groundus, eram mais belas ao nascer e ao pôr-do-sol, quando suas pétalas ganhavam os tons do céu.- Uma matéria é aceitável, ficar atrasada em duas demandaria mais ajustes de horário.

Ele vira os olhos, afinal, é claro que ela já havia rearranjado seu horário perfeito para justificar essa pequena falta deles. Pela grande deusa, não chegava a parecer que eles estavam fazendo algo errado assim.

- Como desejar. - ele responde, sorrindo. Se por um lado esse jeito dela tirava a adrenalina, só adicionava ao charme de Clarisse. - Por quê escolheu Natural? - ele pergunta de ímpeto, ao observar a fascinação dela pela planta.

De todas as coisas que Leo poderia ter perguntado, o porquê de ela estar em Natural não fora uma delas, chegando a tirar sua atenção da planta e voltar para ele, piscando. Entretanto, logo a expressão surpresa dissipou-se, dando um lugar a um pequeno sorriso, um olhar levemente entristecido.

- Não parece ser algo que Milady Vi Alstraim gostaria de ver sua filha fazendo, não? Mas foi o que meu pai fez, e ela não poderia questionar minha escolha sem questionar a dele.- Ela fez uma pausa e balançou a cabeça, sorrindo com a memória.- Papai sempre dizia que diferente de mamãe e vovó, eu tinha o dedo verde de Rheos. Passávamos bons momentos cuidando da estufa de vovô Gerold, que vovó Hilde e tia-avó Caileigh deixaram ao relento porque "Papai dava mais atenção às plantas do que a elas", e ele me levou em algumas viagens as florestas e aos vales e... - Ao perceber que havia fugido completamente da pergunta, ela cora e para de falar, desviando o olhar.

Ele não segura um sorriso enquanto ouve Clarisse falar de si - não era algo que ela costumava fazer, o que ele simplesmente não conseguia se acostumar, primeiro por ser... Ele, segundo por achar tudo que sobre ela absolutamente interessante e encantador.

- Por favor, continue. - ele pede, quase como um apelo. - Não é sempre que tenho como ouvir sobre você, fora as palavras de Lady Alstraim.

Ela abre a boca para protestar, mas acaba por soltar um suspiro resignado e acatar ao pedido dele.

- Papai me levava em algumas trilhas que ele fazia, no fim de semana. Acredite ou não, mamãe se juntava a nós... Ela não parava de reclamar dos mosquitos. Ou das tendas e da falta de refrigeração. Toda. Hora. Mas ela estava contente, Leo. Ela sorria enquanto nos observava com as plantas.- Clarisse sorriu com a lembrança. Quanto tempo fazia desde que vira a mãe daquele jeito, despreocupada, contente?- Vovó Emméline vivia reclamando, dizia que papai seria outro vovô Gerold, que a fez perder o baile de aniversário do rei por causa de borboletas que iam nascer naquela noite. Afinal, que tipo de desculpa era essa? Como ia dizer para a Rainha aquilo? Era embaraçoso!

Ao lembrar da bisavó reclamando dos trejeitos do bisavô, irritada, mas sem conseguir conter o sorriso, ela não pode deixar de rir baixinho. Como Emméline La Fère e Gerald Vi Alstraim tiveram um casamento longo e próspero era uma dúvida que muitos tinham.

- Vovó Hilde e Tia Caileigh contaram que uma vez acordaram com tia Frabella gritando porque tinha uma Aranha Rainha no quarto. No telhado. Logo acima da cama dela. E vovó Emméline soltou um berro quando viu... E vovô apenas disse "Ah Lys sua danadinha, foi aí que você se escondeu"! E teve uma vez que vovô Richie acordou preso na teia dela quando foi visitar! Vovó Hilde ficou furiosa. Vovô Gerold disse que Lys tinha agido sozinha.

A imagem de Mariabelle fazendo trilha em um final de semana ficaria marcada para sempre em sua cabeça? Possivelmente, mas ter a visão de Clarisse sorrindo era o suficiente para, momentaneamente, ele não se dar conta dos danos sofridos. Ele não deixou de rir junto dela dos outros episódios menos impecáveis dos Vi Alstraim.

- Alguém com o nome Ashënnbert com medo de uma aranha? Não esperava chegar o dia em que ouviria falar disso. - ele brinca, rindo. - Mas, se estiver interessada, não duvido que exista uma espécime viva em exibição por aqui.

- Acho que mesmo alguns dos Ashënnbert levariam um susto ao acordar e dar de cara com uma Aranha Gigante.- Ela diz com um sorriso.- Oh, será? Gostaria de ver uma de perto, bisavó Emmé e vovó Hilde soltaram Lys e os filhotes de volta para natureza quando vovô Gerold morreu. Eu nunca vi uma, mesmo quando eu e meus pais viajávamos. Vovó Hilde as manteve afastadas do castelo, assustavam os convidados.

O carro que os transportava os leva até a entrada do museu, o mesmo sem tantas pessoas, mesmo para a exposição principal ou para as outras alas. Imaginava que os cidadãos estivessem divididos entre: aqueles reunidos no Ministério, os que estavam no centro da capital e os que estavam bebendo para esquecer os eventos.

Ela e Kayel chegarem poucos minutos após os guardiões, já preparados para o que é que fossem inventar. Pessoalmente, Avril não achava que a posição deles faria muita diferença, não quando tinham laços tão próximos ao governo de Ekalyon, e o conhecimento normal de adolescentes quanto alguns assuntos. Mas, ordens eram ordens.

- Guardiões.- Ela cumprimenta-os, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, porém não faz mais nada, esperando que Kayel, que estava no comando, tomar a dianteira.

- Guardiões. - ele cumprimenta me seguida, com um tom mais decisivo na voz: claramente indicava que preferia pular essa parte introdutória e ir direto à sua missão, mas também gostaria de evitar que algum dos pirralhos fosse chorar nos ouvidos do rei e ele ter seu posto rebaixado outra vez. - Suponho que estejam à par do que viemos fazer aqui?

- A Imperatriz nos deu um breve relato, mas se tiver uma versão mais detalhada e atualizada da situação poderia ser útil.- Ela afirma de forma neutra e cordial.


Tão entretida estava, que só percebeu a hora quando o relógio do museu tocou meio dia. Sua reação foi compreensível: um grande salto.

- Já está tarde assim?- Ela vira-se na direção de Leo, olhos brilhando de determinação.- Precisamos voltar, ou vamos perder o almoço.

Franziu o cenho ao ouvir Sophie falar, o semblante claro de alguém que obviamente não admirava o fato de ter sido respondido por um ex-getsukai.

- Claramente. - a resposta foi seca, e em resposta ele recebeu um olhar fulminante de Demitri. Ignorou. - Estamos seguindo para o que era o antigo domínio onde se erguia a Shinrakuen, que após suas destruição revelou uma grande concentração de magia. Como os Rozencreux conseguiram encobrir isso, logo abaixo do nariz de todos, é o motivo dos estudos. Algumas atividades suspeitas foram denunciadas nos arredores, assim como alguns desaparecimentos.




O horário não chegou a afetá-lo tanto, mas entendia a redação: quanto mais tempo perdido, mais difícil ficaria para recuperar a matéria ou indicações perdidas em aula, maiores as chances de serem pegos considerando o tempo passado fora da escola, entre outros.

- Certamente. - ele afirma, querendo soar confiante e reconfortador. - Eu consideraria almoçar pela cidade, mas talvez já tenhamos passado tempo demais fora da escola.

- Que tipos de atividades suspeitas, e quem desapareceu?- Ela indaga quando Sophie, ao ver a reação de Kayel, dá um passo para trás, não querendo causar conflitos. Elyss percebeu, no entanto, que Avril rangera os dentes e lançara um olhar feio para o companheiro, estavam no mesmo barco, afinal.


-Poderíamos comer algo no caminho?- Ela sugere enquanto caminham para saída.- Como um crepe, ou até mesmo um fast food? Se é para quebrar o padrão.- Clarisse não lembrava a última vez que comerá um hambúrguer. Era o tipo de comida a qual Mariabelle torcia o nariz e considerava inferior à elas.

- Atividades do tipo que cientistas parecem desinteressados o suficiente para deixar em aberto. - ele responde, mais como um desabafo do que como uma verdadeira resposta. Soltou um suspiro profundo, a impaciência corroendo-o. - Tudo o que temos é que pessoas tentaram invadir o terreno na madrugada, o que aconteceu em diferentes dias e por indivíduos sem conexão entre si. Alguns ainda estão sob custódia do governo, considerando que até então não foram relevantes. - ele continua. - Os detalhes sobre os perfis dos desaparecidos devem fazer parte do documento que fora enviado aos seus aparelhos, mas, como no caso anterior, fora o fato de incluir até então apenas cidadãos comuns, não há mais nada que conecte as vítimas. Exerciam profissões diferentes, com poderes diferentes, e sem relação entre si: talvez nem se conhecessem. - ele responde, mais explicativo dessa vez. Quanto às atividades, esperava que se tratasse de alguns adolescentes cheios de hormônios, mas os desaparecimentos? Esses o preocupavam, eram cidadãos que devia proteger, ou pelo menos acreditava nisso, mas não parecia que a nobreza se importaria até que um deles fosse envolvido.



- Considerando o movimento na cidade, eu não sugeriria isso. - ele responde, recebendo um olhar inquisitivo como resposta. - Pelos eventos de ontem, não é imprevisível que esteja recheada de jornalistas e fotógrafos retratando o ocorrido e as consequências, e, ainda que não fosse desagradável ter uma foto nossa... - ele comenta, piscando o olho. - ... estampando alguma capa de revista, não estamos nas melhores condições de sermos vistos matando aula.

Ela empalidece com o comentário de Leonard. Se a mãe soubesse que matou aula para ir ao museu...

-Tem toda a razão, melhor comermos na escola.- Quando se aproximaram da saída, ela hesitou por um momento.- ... Eu posso usar uma ilusão para mudar nossas aparências para não nos reconhecerem.


- Entendido.- Ela acena com a cabeça e morde o lábio. Quando se reagrupassem, poderiam repassar os olhos pelos documentos desaparecidos, na esperança de ver algo que as autoridades deixaram passar.- Podemos prosseguir, então?

- O que é uma ideia brilhante. - ele admite, uma vez que a possibilidade sequer passara pela sua cabeça. - Por outro lado, quanto antes voltarmos mais fácil recuperará a matéria perdida. - ele apontou. Simplesmente adoraria comer na cidade outro dia, calmamente e tendo a oportunidade de verificar de perto as reações e o que as pessoas andavam falando sobre a noite anterior, mas não queria que suas preferências sobrepujassem as prioridades de Clarisse, nem sua segurança.



Ela sai pela portão e vai ao encontro do grupo composto pelo guardiões e pelos syfels, os lábios como uma linha fina e o rosto na expressão impassível de sempre. O que mais se destacava em suas roupas era o jaleco branco e as luvas que utilizava, além do brasão de Ekalyon costurado sobre o bolso na altura do peito nas cores do país.

- Agradeço por terem vindo o quanto antes. - ela responde, e apenas ficam meros segundos em silêncio enquanto Kayel verificava sua identidade, comparando as informações com as do crachá que caía de uma longa fita em volta do pescoço. - Apenas 5? Ainda há outros para chegar? - ela pergunta, dirigindo-se aos guardiões.

- Os que faltam estam se dirigindo à escola para ver o que a testemunha tem a dizer, senhora.  Eles devem chegar depois.- Ela diz, mais relaxada por ter uma face conhecida como Nis, embora a expressão da mulher não fosse exatamente das mais tranquilizadoras.


Ela franze o cenho.

- Na verdade, eu queria dizer nos disfarçar até chegarmos ao transporte. Você me trás para almoçar outro dia. Amanhã, se tivermos à tarde livre.- Corrige, com um leve toque de vermelho na bochecha.- Vamos andando.- Com um pequeno gesto das mãos, ela tece um ilusão sobre eles e, já do lado de fora, chama um táxi para levá-los de volta.

Antes de entrar no taxi, ele se permite olhar no vidro do veículo e verificar como se parecia. A parte boa? Os olhos verdes ainda estavam ali, bonitos o suficiente para superar as florestas de Aurelis, mas o resto?... Cogitava falar com Clarisse que merecia algo melhor - acima de tudo, cachos nunca ficavam bem em si.

Eles entram juntos e partem em direção à escola.



Ela assente, e com Kayel já tendo finalizado a verificação, ela se vira para a entrada do Museu.

- Se é assim, prossigamos. - ela diz e caminha, seguida pelos guardiões e pelos syfels pela entrada principal do Museu. No entanto, eles viram na direção de uma saída lateral antes da exposição, que abre após ela passar o próprio cartão. Atrás da porta, uma escada em espiral cujos degraus era suspensos no ar indicava que o caminho seria profundo, e nem mesmo as luzes flutuantes pareciam indicar perfeitamente o fundo.

Após o que pareceu alguns longos minutos silenciosos só para chegar até o final da escada, um túnel se estendia por debaixo do museu, seguindo um caminho subterrâneo até onde, meses antes, se erguia a antiga Shinrakuen. No caminho, outros cientistas e supervisores passaram pelo grupo, majoritariamente composto por habitantes de Ekalyon, como o brasão lilás e branco indicava, mas também distinguia-se cientistas das outras nações do ocidente. Nenhum deles parecia feliz ou concordar com a presença deles ali, mas não emitiram nenhuma palavra.

- Existem muitos campos de concentração de magia espalhados pelo mundo mágico, isso não é nenhuma novidade, mas quando começamos a estudá-lo começamos a notar que sua natureza não é tão simples como as de outros. - ela começa com a explicação enquanto avançavam, até que o túnel se abria em uma grande sala, com mesas e equipamentos instalados, mas, em especial, toda uma parede de vidro que garantia a oportunidade de observar o sítio de pesquisa claramente. - Rapidamente, um grupo de cientistas foi formado em Ekalyon, mas os outros reinos logo fizeram seus movimentos para exigir a sua participação, uma vez que o seu conteúdo podia ser uma ameaça a todos. - ela continua. - Não preciso lembrá-los de que tudo o que ouvirem ou observarem aqui é conteúdo confidencial do governo, e que por isso não pode ser dividido com outros que não possuírem a devida permissão para tal, preciso?

- Não é necessário, senhora Eirligen, sabemos bem disso. - "E você acabou de relembrar de qualquer forma" ela pensa, enquanto desvia o olhar para as mesas de pesquisa.- E que diferença descobriram, que não torna tão simples?

- Campos de concentração de magia, ou CCA, possuem uma natureza complicada, que em geral depende de que evento, criatura ou força o tenha gerado, mas, para as funções nas quais podem ser aplicados, são bem mais simples. Em geral, eles vão concentrar um tipo de energia, falando aqui de, possivelmente, um dos elementos, que podem ser explorados para servirem de combustível para encantamentos do nosso cotidiano ou para funções específicas sem que haja a necessidade de um indivíduo controlá-lo. - ela inicia. - No entanto... O que estava abaixo da Shinrakuen não emite só um tipo de energia, e nem um único tipo de onda, o que pode significar que produza outra forma de mensagem que não conseguimos ainda decifrar.

Ela franze o cenho, intrigada.

- E a Guilda da Magia, não possuem nenhum acontecimento comparável nos arquivos?- Ela fala pela primeira vez desde a entrada, ainda que um pouco hesitante. Contudo, quanto mais se aproximavam de Shinrakuen, mais ela sentia uma confiança: pelo menos, o que tinha acontecido ali não era culpa dela.

- Não no ocidente. - ela responde. - Havia relatos de CCAs em outras regiões que talvez pudessem ser similares a esse, mas sempre que um grupo era formado o campo já estava tomado e fechado por cientistas de Thyrmmëin, que impediam qualquer progresso ou deixavam vazar qualquer informação. Também não parecem produzir nenhum artigo ou obra sobre o assunto, ou se o fazem, estas se limitam à apenas dentro do império.