A capital de Ekalyon fora uma cidade que, apesar da modernização e o avanço da tecnologia, permanecera com os ares clássicos de outrora, visto na arquitetura de seus prédios, nas esculturas e nas ruas pavimentadas de mármore. Mesmo antes da guerra e da renovação que se seguiu a cidade já era assim, uma necessidade de séculos passados: os nobres, ao saírem de suas luxuosas propriedades no interior para a temporada na capital não esperavam menos. Alguns tinham mansões suntuosas construídas na parte alta da cidade, mais afastadas do centro, em geral membros da antiga aristocracia; outros, da nobreza togada e das classes alta e média viviam casas estreitas, mas com diversos andares e salões que ladeavam as principais ruas da cidade, o parque, e alguns moravam nas imensas coberturas e apartamentos dos poucos prédios que havia.
Os Lockser, ao serem elevados à nobreza, nunca perderam seu gosto pela vida citadina e, apesar de possuírem uma propriedade em suas terras, lá só habitavam alguns poucos criados. A família mesmo vivia na cidade, ainda que em partes diferentes, bem correspondentes com seu estilo de vida.
Na frente de uma adorável casa branca, estava parada uma limusine preta, com o chofer ao lado de fora, esperando pacientemente pelas pessoas que iria levar ao baile. A tranquilidade do exterior se opunha ao caos que se encontrava dentro da casa, o que não era surpresa, tendo em vista que Orinthia e Francis Lockser se encontravam no lugar se arrumando.
- Frank, meu querido, como estou? - Ela indaga descendo as escadarias, um sorriso largo em seu rosto completamente maquiado. Usara tudo que tinha direito, desde o forte delineador preto em estilo egípcio, a sombra dourada, os cílios postiços, batom rosado e o blush vermelho.
Usava um vestido tomara que caia em corte sereia, todo de lantejoulas largas e de um rosa metálico, com uma pequena calda atrás. O corpete era decorado com flores formadas por diversas pedras de diamante, margeavam o topo do seu vestido, e, da central, desciam mais duas até a altura de sua cintura, onde diamantes a circulavam como um cinto. Usava um colar de ouro embutido com cristais com um laço preto como pingente, e nele estava preso uma flor de diamante e cachos de ouro e cristal caíam dele, pequenos. Seus brincos eram como seu colar, compostos pelo laço, uma flor menor, com os cachos mais fartos e compridos. Usava luvas semi-transparentes negras, com uma pulseira do mesmo modelo do resto de suas jóias, e uma xale de pele negra envolvia seus ombros. Por fim, seu cabelo estava preso num simples coque estilo banana.
Sentado numa poltrona, Francis estava surpreendentemente mais composto do que a mãe e do que era seu usual. Seu paletó era um corte tradicional, preto com finas listras cinzas, mas cuja a casaca era toda bordada em fios de ouro, formando galhos cheios de folha que rodeavam sua manga e subiam até seu cotovelo, decoravam a gola e desciam com ramificações ao longo da linha dos botões e das pontas do casaco. O colete e sua grava borboleta eram pretos, assim como suas calças, e a blusa branca.
- Como você sempre está, mamãe.- Ele responde com um sorriso amarelo, que a mãe entenderia como linda e maravilhosa, mas que Francis sabia ser... demais para o evento. Mas bem, se não fosse demais não seria Orinthia Lockser.
O sorriso dela se alarga e faz o movimento de jogar o cabelo para trás, mesmo que não houvesse cabelo solto. Força do hábito.
-Obrigada, meu menino lindo!- Ela diz enquanto se aproxima de Frank e aperta as bochechas dele, fazendo-o a lançar um olhar feio.- Nada de olhares feios, Frank! Temos uma festa e precisamos curtir! Agora vamos que Levy já está me ligando com todo aquele bla bla bla dela de horário! Oras, até parece que sua irmã não sabe que é fashion chegar um pouco atrasada! - Ela afirma, levemente indignada, mas saindo, e pega o filho pela mão e o puxa para fora da casa, entrando no carro e indo em direção ao baile.