Ruas da Capital

”Demônios no Céu?” franziu o cenho, intrigado. Era um termo usado nos antigos livros para descrever alguns dragões auperiores – especialmente as feras selvagens e indomadas que governavam o fogo negro - e se perguntou se teriam alguma relação. Observou, intrigado, Khorsän puxar um tecido, translúcido e fino, explicando que funcionava aplicando-o acima de um já existente e serviam para proteger contra dano espiritual.

O preço era estupidamente alto no entanto, e começou a pensar que Rhaegar iria matá-lo, mas o interesse foi o suficiente.

”Útil, considerando os eventos recentes. Um primo lá de cima de Loriath estava comentando os acontecimentos! O horror, o horror!” Balançou a cabeça, horrorizado.”Souberam do quebrar houve? As notícias não são nada boas.”

Suas suposições, apesar de terem sido desmerecidas anteriormente, provaram-se mais uma vez certeiras ao dar início aos comentários do vendedor. Mal prestou atenção na explicação de como o tecido funcionava - isto é, se funcionava. Nada garantia que estaria disposto a vender tais produtos para meros adolescentes, ainda que Aegon fosse... Aegon. No entanto, não tirou os olhos do produto.

- Mas que quebra? Ele está bem? - ela pergunta, piscando os olhos como se recebesse a notícia da primeira vez. - Agora o senhor está me deixando assustada!

O homem pareceu hesitar por um momento, como se não tivesse certeza do que deveria falar. Abrindo um sorriso largo, Aegon segurou o tecido, além de capturar mais uma seda com os dedos: um tecido de Yen’Darin, vermelho escuro feito com fios lustrosos negro, além de pequenos detalhes com azeviche e cristais.

- Olha, esse aqui é fantástico!- Exclamou, animado e lançou um sorriso charmoso ao vendedor.- Vou levar todo o rolo, além dos outros e o especial.- Viu Khorsän arregalar os olhos, e abrir a boca para, provavelmente, dissuadi-lo, mas Aegon simplesmente alargou o sorriso.- Em Ouro.

Ele, oficialmente, ia ser morto. Mas estava tão divertido!

Aquilo desarmou Khorsän completamente que desandou a falar: ”Caos! Razoreniye e Karsnay convocaram reuniões, declararam uma caça às bruxas para saber os envolvidos, estão com medo de que recaia sobre eles; ouvi até que um dos Beyzalar apareceu para uma reunião com o Starshiy Bratv.”

Agora estava interessante. Beyzalar significa Brancos– era uma referência e apelido comum ao Rozencreux. Olhou para Ashe, esperando sua reação e se sabia Dan informação que Khorsän os contara.

Diante das reações de Aegon para fazer o vendedor falar ela só conseguiu arregalar os olhos para o colega, levemente incrédula. Queria se aproximar, puxar ele pelos ombros e dizer Já chega, é o suficiente. Vamos embora, mas o que o vendedor disse a seguir capturou sua atenção. Ashe não tinha domínio completo do dialeto hoiriseni, mas as relações com o oriente em Loriath sempre foram amistosas pela sua história, então era difícil não ver um estrangeiro entre os negócios mais antigos, e por isso havia certos termos que era impossível desconhecer.

- Como é? - ela retruca, uma sombra recaindo sobre seus olhos, com a pupila diminuindo como se, ao contrário, estivesse diante de uma luz forte. - Quem? Para onde foi?

Não, não não! Ele teve vontade de gritar e de puxar a Ashe para longe, de lhe dizer, em palavras acalouradas, que ela simplesmente não podia chegar e demandar resposta desse tipo de gente. Não era assim que as coisas funcionavam por ali, se Khorsän se sentisse ameaçado, e ele era alguém conhecido e popular, portas se fechariam para eles e não conseguiriam que ninguém lhes falasse mais nada.

Percebendo a expressão mais acuada do mercador, Aegon tomou a dianteira, entrando na frente de Ashe antes que ela resolvesse pegá-lo pela gola do caftan e falando em Hoiriseni, pedindo desculpas pela colega e explicando que as notícias deixaram-nas desconcertadas. E que estava apenas curiosa, afinal, um Beyzalar não era comum em Loriath e após o acontecimentos de Shinrakuen... Era no mínimo curioso.

”É de fato suspeito. Mas me disseram que era um rapaz relativamente jovem, olhos verdes. Máscara. Foi embora logo depois que chegou, levando um pacote. Um navio com parada em Yermund e destino a Ekalyon. É tudo que sei.” terminou, e ergueu as mãos para o alto. Aegon o conhecia o suficiente para saber que era verdade e acenou com a cabeça, lançando um olhar censuradora pare Ashe.

- Bem, acho que já escolhemos tudo aqui!- Afirmou com um largo sorriso. Khorsän acenou com a cabeça freneticamente, tomando o tecidos escolhidos e distanciando-se para embalá-los e contabilizar o total, deixando Ashe e Aegon relativamente sozinhos.

Diante da sua respostas que, admitidamente, não fora necessariamente ela que conseguirá extrair, foi visível ver a forma como retraiu o seu comportamento: desde os ombros que relaxaram até toda a comunicação corporal, se tornando mais retraída. Sem a repressão de Aegon, era visível que se sentia, no mínimo, como uma idiota por ter colocado toda aquela encenação em risco - e se tinha algo que aprendera com as últimas noticias, era não tomar de graça os esforços daqueles a sua volta. Olhe Black, olhe Aelroth.

- Eu não... - ela começa, mas suspira, e com isso era como se o assunto morresse para ela em seus pensamentos. - Temos a confirmação, e devemos-lhe nos preparar para agir de acordo. - define, imperiosamente.

Soltou um suspiro pesado, perguntando-se se, algum dia, receberia um  ”Obrigada” ou no mínimo um ”Muito Bem, Aegon”. Nem isso, um reconhecimento de que fora útil para algo ao invés de só irritá-lá e fazer besteira.

- Tudo bem então, vamos pagar e discutimos isso lá fora enquanto comemos alguma coisa? Não é a melhor ideia falar aqui.- Disse sem hesitar porque sim, achava que havia ganho o direito ao lanche agora, não queria enfrentar o pai só à base de amendoim. Fez o caminho de volta ao andar superior, indo até o balcão e verificando o total das compras, e Deuses que o enterrassem se não fosse barganhar um pouco. Alguns minutos depois, chegaram a um acordo, e Aegon tirou uma saquinho de couro cheio de moedas do bolso da jaqueta. Khorsän fez a conta, e abriu um sorriso, desejando à Ashe e Aegon uma boa tarde quando caminhava para fora com as sacolas.

Mal podia esperar para ver o término de sua estadia no pequeno e duvidoso estabelecimento do negociante, apenas se demorando ao observar a negociação entre Aegon e Khorsän - o Gaerntheon gostava de esbanjar ter o controle da situação, mas o quanto isso valia para um mercador experiente e em um território como aquele? No mais, se Aegon fracassasse ela pelo menos teria o que rir pelos próximos minutos, antes que sem mais delongas chamasse os guardas por estarem pagando o triplo do preço original. Infelizmente, não foi o que aconteceu, pois o colega estava interessada em passar o dia surpreendendo suas expectativas.

Quando já estavam do lado de fora, sentiu que já podiam voltar a discutir o que realmente importava.

- Ele falou que a opção do tal Rozencreux seria vir por navio, então deveríamos nos atentar para Hydrogus. Ou ir até lá e esperar observar alguma movimentação. - optar por uma rota naval foi inteligente, já que acaba recebendo menos fiscalização por ser a mais lucrativa e preferida do comércio. - Mas, em meio a todo ocorrido, um pacote? No que raios estão pensando? - supunha que essa seria a chance de pegar algo de valor, mas algo pequeno o suficiente para ser carregado por uma pessoa? Logo após atacarem a alta câmara do exército e com tudo que tinha lá dentro? Era no mínimo duvidoso, ou um sinal de que tinham algo maior em mente.

Deu graças aos deuses ao saírem do estabelecimento, não era um local exatamente grande e Aegon estava longe de ser a menor pessoa por perto. Mal saíram e Ashe começara a andar, o que respondeu com um suspiro e continuou a andar, lançando-lhe um olhar para que seguisse- não tinha um lugar particular em mente, mas sabia que ficar parado e conversando naquela parte da cidade era convidar bisbilhoteiros e ouvidos extras.

- Podemos fazer isso, sim. - Fez uma face pensativa, se estavam falando de Hydrogus...- A costa ao longo das Terras Afogadas, especialmente às margens do Pântano Cocytus é particularmente perigosa de se navegar, há pouca, se não nenhuma, vigilância ali. Atravessar o Pântano não é fácil, especialmente em época de cheia. Mas não é difícil imaginar que eles tenham os meios para tal e prefiram as rotas menos utilizadas. Os pequenos portos das vilas peixeiras também são uma opção. E pacotes... Algum artefato poderoso ou perigoso, talvez?

- É o dilema: aproveitar a multidão para passar despercebido e arriscar ser notado, ou optar pela rota mais perigosa. Mas se o seu informate foi capaz de nos indicar não só o destino, mas também a parada do transporte, suponho que não se trate de algo sigiloso. - "A não ser que ele estivesse se referindo a uma rota clandestina de produtos" ela pensa, logo de seguida. - De todo modo, será melhor nos dividirmos em dois grupos e vigiar os possíveis locais do desembarque, que não deve acontecer até amanhã. - ela continua, fazendo uma suposição ao verificar a hora. Se o ataque ocorreu no final da manhã e ainda contavam com uma parada em Ralion, deveria chegar apenas durante a madrugada.

Em seguida, ouviu a pergunta de Aegon sobre o possível conteúdo do pacote, como se aquela dúvida já não estivesse tomando conta de sua mente. O que esperariam conseguir tão rapidamente com um atentado dessa magnitude? Talvez discutir ajudasse a colocar os pensamentos em dia.

- Você não quer comer? Vamos nos sentar em algum lugar, vai ser melhor. - ela dita, enquanto se aproximavam novamente para o centro das ruas da capital e, assim, lanchonetes e rastaurantes começavam a se erguer. Considerando que um almoço estava fora de questão, uma lanchonete de petiscos apimentados parecia uma substituição louvável, além de talvez agradar o paladar de Aegon.

Ele faz um pequenos aceno com a cabeça, colocando as mãos nos bolsos. Chances eram que ficaria responsável por um dos grupos, e não era exatamente fã do clima frio de Hydrogus– embora, honestamente, a Costa de Trienna não era o local mais agradável para se visitar, mas, no momento, antigas superstições eram irrelevantes.

- Vamos nos sentar, e conversamos.- E esperariam até amanhã.  Ou pelo menos, ela iria. Aegon ainda tinha uma longa noite longa pela frente, ou não, se os deuses fossem piedosos consigo, contudo, desde quando eram? Olhando para o local de petiscos apimentados não pode deixar de abrir um pequeno sorriso, aproximando-se do balcão.- Cubinhos de vinsomer com molho de flores de fogo, por favor.- Pediu ao jovem atendente, um petisco feito com uma espécie de boi típica de Vulcanus e das típicas flora rubras que cresciam nas encostas de basalto; eram resilientes, e prova que vida poderia existir nos mais hostis ambientes.

... E que eram a coisa menos apimentada do cardápio.

Não demorou muito tempo para, depois de começar a narrar os pontos fortes e fracos de cada rota e os caminhos que divergem delas pra fora de Hydrogus, ela notar que não estava simplesmente “liderando” a conversa, mas se encontrar em uma posição equivalente a estar falando sozinha. Piscou, aturdida, considerando que fora quando ela diretamente se dirigiu a ele, Aegon não havia retrucado desde que saíram da loja no outro distrito.

- Vou precisar da sua concentração se quisermos estar prontos pra amanhã. - ela diz, esperando chamar a atenção. Das pessoas que tinha confirmado até agora como parte de seu grupo, cabia agora dividir os grupos. - preferiria trabalhar com quem?

- Eu ouvi tudo o que você disse, Ashe. Se quiser, até repito.- Afirmou, pegando a comida pronta e sentando-se e soltando um suspiro. Ao ver o sol se pondo no horizonte, a sensação de expectativa e ansiedade aumentavam, e ficava mais apreensivo com o que possivelmente aconteceria.- Particularmente, Robb e Eurydice. Conheço os dois a mais tempo e logo, seria mais fácil, mas- Fez uma pausa, fechando os olhos.- Talvez fossem bom separar os das Voynartion por questão de comunicação, não estamos 100% familiarizados com os códigos militares de Loriath, e alguém de Ekalyon lhe daria maior perspectiva sobre o terreno e as peculiaridades.

[Ashelia]

Independente do que o colega podia afirmar ou o quão bem conseguia repetir o que ela havia explicado, não podia deixar de sentir que algo estava errado. Fora do lugar, apático, mas se fosse pensar nisso... O quê estava certo naquele dia? Nada, e não podia de dar ao luxo de ficar amuada.

- Dividir os das Voynartion não é má sugestão, apesar de sacrificar um pouco de sincronia. - não era de se admirar que o nível dos irmãos fosse conhecido a despeito do quão bem conseguiam trabalhar em equipe. Agora, é fazer questão que Armand ficasse com um grupo que soubesse obedecer... e Isla com um grupo que ache que sabe comandar. - Você, Isla e eu devemos ficar com a rota menos movimentada, sem grandes impedimentos pra usar nossos poderes. Armand lidera o outro grupo pelo desembarques a rota comercial, em que reconhecimento e discrição serão necessários.

[Aegon]

Terminou o último pedaço de Vinsomer, limpando as mãos e a boca com um guardanapo. Virou o resto do refrigerante e soltou um suspiro, apertando a ponte do nariz. Ele, Ashe e das Voynartion, em uma possível luta amanhã. Bem, se as coisas dessem errado com Rhaegar, teria como descontar a frustração e a raiva em algum lugar. No entanto, tinha esperanças que não precisaria. Seria uma boa notícia. Olhou para Ashe e acenou.

- Faz sentido.- Afirmou, colocando as mãos nos bolsos.- Nos encontramos nos jardins amanhã, após a primeira aula? Nos dará tempo o suficiente para chegarmos e encontrarmos bom lugares para observar e para ataques surpresas quando chegarem ao meio da tarde.- Mal esperou Ashe concordar e tirou do bolso um dos dispositivos translúcidos, escolhendo e materializando um suéter vermelho, colocando-o por cima da blusa preta e sorrindo para Ashe.- Tenho que estar minimamente arrumado para encontrar o velho Rhaegar. Te vejo amanhã.- E com isso saiu, aoressado e olhando o relógio. Ia chegar tarde e receberia reclamação, mas, dando um último olhar de relance para a garota de cabelo branco, pensou que talvez não deveria terminar tão rápido a potencialmente melhor parte de seu dia.

[Ashelia]

Havia ainda tanto para se discutir, tanto para se planejar e considerar, então surpresa, ou melhor, incredulidade, tomou conta de seus pensamentos e face. Mas sono era algo superestimado, especialmente em uma operação como aquela.

- Raios. - ela murmura, chamando um atendente para fechar a conta e pagar o que a pequena refeição lhe custara.

Mas um novo dia lhe esperava, e com ele o que mais ansiava: respostas. Vingança, um sussurro em sua mente corrigia. As respostas não eram apenas para si, mas para Loriath e cada um de seus homens e mulheres que mereciam paz. Enquanto se levantava e voltava para a escola, não dormir não precisa mais uma tarefa tão difícil.