Castelo Branthèse

Ela chega junto de Demitri, com o prato mais cheio do que o previsto- não conseguiu se conter e pegou exemplares a mais do que pareciam apetitosos. Comeu uma pequena tortinha, em poucas mordidas e sorriu para o namorado, de quem já havia se aproximado.

- Vamos! Sua irmã nos aguarda!- Ela diz e passa por ele quase saltitando, sorrindo, enquanto ia na direção de Sophie e Len.


Ela vê o irmão e Charlotte se aproximando e não consegue conter uma risada suave. Tendo vivido com a menina no mesmo dormitório por um ano inteiro, Sophie lembrava das vezes em que Lotti roubara doces do refeitório para o quarto, embora sempre choramingasse que eles não eram tão bons e só serviam como tira gosto. E que ela estava obviamente usando Demitri para quebrar as regras de Ashley... Sentia pena dele, mas era engraçado.

- Vi que já passaram na mesa de doces.- Afirma gentilmente, ao que Lotti responde com um largo sorriso.


Hecate foi tirada de sua conversa com Rin quando um dos empregados correu até si, afirmando que o Arquiduque não parecia estar bem. Foi como se um raio tivesse a atingido enquanto repetia em sua cabeça "Não, isso não podia estar acontecendo. Não agora, quando estava indo tudo bem". Quando o homem chamou seu nome novamente foi que ela despertou do transe, balançando a cabeça.

-Obrigada.- Ela agradece e vira-se para Rin, os olhos brilhando com preocupação.- O que será que houve?- Indaga baixinho, balançando a cabeça e colocando uma mão no ombro dela.- Ache o Len e tente distrair as pessoas, okay? Vou encontrar seu pai e ver qual é o problema.- E com delicadeza ela sorri, indo logo após na direção de Hector, aproximando-se, mas não sem antes dispersar um pouco as pessoas que estavam ao redor.- Hector? Está tudo bem?

Ela franze o cenho quando, por acidente, escuta o que o empregado veio avisar a Hecate, não conseguindo conter a sombra que caiu sobre seu rosto, o olhar preocupado que durou por alguns instantes até que a própria se referisse a si. Não, não era hora de entrar em pânico.

Vestindo uma faceta solene ela faz seu caminho até o irmão, abrindo o maior sorriso que conseguia e abraçando-o enquanto o parabenizava, aproveitando para deixá-lo a par enquanto estavam próximos. Após se afastar, ela se aproxima da orquestra e incentiva-os a começarem a tocar a próxima música da dança, mesmo sem que Len e Sophie estivessem prontos.



Parecia que a pequena comoção que se organizava ao redor de si não lhe chamava a atenção, e até quando Hecate chega perto de si ele já havia recomposto a postura, mas de uma forma... forçada: as costas estavam eretas, como um soldado, e ainda parecia não se importar na trilha de sangue que escorria de seu nariz.

Os olhos não tinham brilho, opacos em seu tom de verde.

- O que você pensa que está fazendo?

- Como assim o que eu penso que estou fazendo?- Ela retruca quase que imediatamente, pega de surpresa com a reação dele. Balançou a cabeça, consternada.- Conferindo como você está, oras! Não é normal sangrar pelo nariz to nada. Aqui, pegue.- E tirando a toalha das mãos do empregado que trouxe ela estende ao arquiduque.

O rosto ainda era impassível, fechado de uma forma que não transparecesse nenhuma emoção. Era como se fosse mais um guarda, ao invés do Rei e, até então, Arquiduque Hector que conheciam. O gesto de Hecate não tive uma reação imediata, com ele estendendo a mão para receber a toalha oferecida, até que ele simplesmente pára.

E em uma questão de segundos, as mãos voam na direção da garganta da conselheira, com o óbvio intuito de sufocá-la. Era mais alto e maior do que ela e, além disso, o que não parecia tão óbvio pela sua personalidade, era mais forte, não fazendo qualquer esforço para suspendê-la do chão.

A ação foi recebida com um grito desesperado que atravessou e emudeceu o salão, enquanto a mensagem e o desespero começavam a se infiltrar por entre os convidados.

Quando ele ia estendendo a mão, ela abriu um sorriso, relaxando um pouco, mas no momento que ela mudou de rumo e mirou seu pescoço, Hecate ficou tão atordoada que mal teve tempo de reagir. Era uma situação completamente atordoante, que não esperaria nunca, não vinda de Hector. O Arquiduque poderia ser fisicamente mais forte do que si, mas Hecate era magicamente superior. E possuía fôlego para revidar.

Seu corpo irrompeu em chamas douradas, queimando as mãos de Hector. Adagas surgiram do ar, e levadas por uma rápida e forte rajada de vento foram jogadas nas pernas deles para desestabilizá-lo.


Sua vida inteira, Erin fora treinou para reconhecer e reagir instantaneamente a perigos. E, da posição que estava, mais alto nas escadas, possuía uma visão privilegiada do salão e foram precisos instantes para marcar o antigo rei como uma ameaça. Não sabia o porquê estava acontecendo, nem, no momento estava interessada em saber; havia apenas uma única coisa em sua mente: proteger Alphonse e Valary, por extensão, e foi exatamente isso que fez. Com um movimento rápido das mãos transmutou o vestido em um macacão apertado e flexível, e os sapatos  em botas de combate. 

Foi até fácil chegar aos dois, afinal, as pessoas saiam quando passavam. Talvez não devesse ter transmutado as roupas, certamente fez o desespero se espalhar mais rápido. Contudo, caso alguma organização estivesse por trás desse ataque, poderia haver mais luta a qualquer momento, e não estaria despreparada se o momento chegasse.

- Preciso tirar vocês daqui. Agora. - Ela afirma, segurando o braço de cada um. Seu tom não abria margem para discordâncias.

O grito de terror e as espadas que simplesmente surgiram do nada chamaram sua atenção, e a primeira reação que teve foi se adiantar entre as pessoas - foi consideravelmente difícil, considerando que todos pareciam estar indo na direção contrária ao seu destino, procurando se afastar dos conselheiros reais.

Não foi nenhuma surpresa ver as espadas atiradas contra Hecate serem rebatidas por outras armas que também surgiram do nada - cópia era o poder de Hector, e faziam dele um oponente no mínimo irritante quando se está cercado de pessoas com as mais variadas habilidades. Não, o que a surpreendeu foram as armas ricocheteadas irem na direção dos convidados, e ela evitou mais algumas tragédias parando-as no ar.

- É um espaço fechado, não vai funcionar! - ela exclama, observando as mãos de Hector ainda no pescoço de Hecate fraquejarem pelo calor, mas não deixarem o pescoço da conselheira. Não, resistir daquela forma ao calor não era sensato, mas já era óbvio que aplicar a lógica no comportamento errático do arquiduque não os levariam a lugar algum.



No início, ela havia pensado que o grito era de uma jovem que havia sujado o próprio vestido, mas as pessoas esbarrando em si indo na direção da saída logo a despertaram para a seriedade da situação. Do outro lado do salão, ninguém menos que o pai do Rei tentava matar a Conselheira, que com toda sensatez do mundo havia lançado armas contra ele.

Justo? Não quando se está cercado de pessoas, pode apostar. "Vão precisar imobilizá-lo." ela pensou, tentando encontrar um canto em que não seria facilmente interrompida.

Magnetismo? Tão estupido quanto atacá-lo diretamente. Seu plano era entrar na mente dele e pará-lo, mas sentiu-se imediatamente expulsa quando o tentara. A surpresa tomou conta de sua face e ela se juntou àqueles que tentavam sair às pressas.

Resistir a um calor tão intenso... Era insano - se Hector não a soltasse imediatamente, suas mãos ficaram marcadas para sempre. Ao usar fogo, esperava que a dor acendesse alguma ração, que o fizesse despertar de seu transe. Estava errada, e apenas perdera preciosos segundos. As chamas morreram ao redor de si, e seu rosto começara a ficar vermelho. Se ele não iria soltá-la por bem, então teria que se soltar sozinha. 

Podia sentir a água no sangue de Hector - ela podia controlá-la. E concentrando seu poder, ela forçou as partículas a obedecerem a si, forçando os braços dele a cederem o suficiente para que conseguisse soltar e desse um pulo para trás, arfando, usando seu poder sobre o ar para reencher seus pulmões.

Sentia uma queimação no seu estômago e mordeu o lábio. Controlar algo em partículas tão pequenas, tão diluídas não era fácil, simples, ou tão inofensivo quanto se pensava- drenava a magia muito mais rápido, e até afetava o corpo, em condições menos que ideais.

Quando a comoção começa a tomar conta do salão, ele instintivamente larga o prato e segura em Lotti, pois da maneira que as pessoas estavam esbarrando uma na outra sem ordem, não seria difícil que ela fosse levada pela multidão - e, em momentos de pânico, não havia alternativa pior.

Não demorou muito para que visse a própria Ashley, aparentemente furiosa e de alguma forma abrindo caminho entre as pessoas chegar até si, estando mais ali pela filha do que por qualquer outra pessoa por perto.



Quando ela termina de se aproximar é que consegue distinguir as figuras do rei, da princesa e da ex-Geraukai perto da filha. Se dependesse de si, ela não pouparia tempo para acusar a jovem de roxo pelo ataque - até que ponto a maldita organização havia sido derrotada se quase todos os seus membros estavam vivos e saudáveis? Mas não, a segurança de Lotti era mais importante.

- A saída principal está fora de questão. - ela simplesmente afirma, considerando como as pessoas tentavam sair por lá. - Faça algo de útil, garoto.

Não é como se Demitri gostasse de ser tratado assim, mas ele tinha alguma escolha senão acatar com as ordens? Nenhuma. Ele pediu que todos ficassem perto, e fez com que uma sombra os engolisse e os levassem até o lado de fora do castelo, mesmo sob os protestos dos príncipes e da irmã. Oras, ele também era um soldado, e naquele momento a segurança deles importava mais.

A partir do momento em que eles emergem das sombras do lado de fora, ela usa lâminas para cortar a saia do vestido, tornando mais fácil se movimentar. Retira os saltos e no metal líquido se enrola em sua perna até endurecer na forma de aparecem botas de metal, assim como as manoplas e uma armadura. Em sua mão, uma espada.

- Me mande de volta, Demitri. - Ela afirma, mortalmente séria, o olhar resoluto e queimando de determinação.- Eu tenho que lutar. A Grã-Duquesa de Wynvernihs e o Rei podem atestar a isso.- E deveriam. Assim como Keith, aquela era sua punição, arriscar sua vida quando havia perigos desconhecidos- fora a única razão de terem-na mantido viva, e ela não pretendia dar-lhes motivos para executá-la.

O rosto dele passa de incrédulo até enfurecido em uma questão de segundos, e a pior parte é que ele nem sequer sabia contra quem ele queria gritar: a própria Sophie, Ashley ou Len.

- E qual a sua estratégia, hein? - ele pergunta, esperando colocar algum senso dentro da cabeça dela. - Voltar lá e atacar o Arquiduque? Não tenho certeza se isso vai melhorar alguma coisa!



Algo ali estava muito errado, e não era só pelo fato de Héctor estar atacando Hecate ou qualquer sinal de vida que passasse por si. Não, normalmente ele não seria capaz de usar mais de um poder por algumas horas, mas hoje...

Havia um motivo para estar sangrando, e o que quer que fosse responsável por isso não estava dando a mínima. No final, ela não tinha muita escolha senão desviar os ataques contra os convidados que tentavam fugir ou contra si - atacar era pedir que Hector rebatesse com outro elemento, desgastando ainda mais e até um ponto que ela não sabia se ele podia aguentar.

E seus sobrinhos já haviam perdido gente demais para ter mais essa soma. Ekalyon já havia perdido.

- Quanto tempo até a guarda chegar? - ela pergunta a Hecate após trazê-la para perto de si usando a terra. - Algum deles pode ter um poder que não possa ser neutralizado.

Tendo reagido rápido à situação que se formava, Erin saiu com o Príncipe e Valary sem maiores problemas, seguidos por seus pais, que haviam acabado de falar consigo quando saíram. Do lado de fora, pouco tempo depois, seus pais apareceram, cercados por guardas de Ralion. Ireyne a abraçou e sussurrou que graças a Deus estavam todos bem. Alphonse tocou na sua mão, e ao olhar para o príncipe, a mensagem era clara: Voltar e ajudar. Após o ano passado, um atentado ao rei poderia ser a todos eles.

-Cuide bem deles. Rápido! Aproveitem que ainda não há tantas carruagens desesperadas!- E apertando o ombro das crianças mais uma vez ela virou a cabeça e correu para falar com um dos serviçais é basicamente o forçou a dizer onde era a entrada de serviços e emergência - sempre havia algo assim. O homem logo apontou e Erin correu para dentro o mais rápido que pode.



-E o que você espera que eu faça, fique aqui parada sem fazer nada?!- Ela repete, igualmente irritada, os olhos azuis brilhando.- Eu não tenho escolha, Demitri! Isso aqui - Abrindo a bolsa, ela mostra um bracelete parecido com o dos militares, com a tela vermelha, em letras garrafais o sinal de Emergência. Hecate havia acionado a pouco, convocando a guarda e os Syfel.- É o preço que eu tenho de pagar. Eu sei lutar tão bem quanto um militar de alta patente, eu sei desmaiar uma pessoa e imobilizá-la. Eu posso ajudar. - Ela repete, quase implorando.


-A qualquer momento! - Ela afirma, já tendo enviado o alerta de emergência. Desviou de um ataque que Hector mandou em seu caminho. Se continuasse assim... As consequências poderiam ser irreversíveis.


O súbito desencadear de evento a pegou tão de surpresa quando aos outros presentes. Imediatamente olhou para Celthric, com um olhar que dizia muito mais que palavras: Isso não estava nos planos. Será que eles estavam por trás disso? Se sim... Não serviria ao propósito deles, o que era uma boa desculpa para ajudar.

-Deveríamos ajudá-los. - Ela murmura para o companheiro, com a cabeça baixa.

O olhar inconformado não passou despercebido para nenhum daqueles que estavam ali, desde Sophie até para bem em cima de Len, que não conseguiu sustentá-lo. Nenhum dos dois garotos concordava com aquelas condições, mas também não tinham poder o suficiente para desconsiderá-las: apesar de Rei, ele sacrificaria muita coisa se impedisse Sophie de se colocar na linha de fogo, ainda mais com Ashley logo ali, que não parecia nem um pouco comovida ou incomodada - só impaciente, querendo sair logo junto de Charlotte.

- Como desejar. - ele responde, ainda com um mau humor na voz. - Mas não engaje em conflito antes do reforço chegar, o que quer que tenha acontecido não muda o fato de que ainda é o arquiduque. - ele continua, só podendo rezar para que a irmã optasse por ficar na defensiva enquanto fazia uma sombra engoli-la e enviá-la de volta para o salão.


[CELTHRIC]

Ajudar?

A palavra quase soou estranha aos seus ouvidos, mais pela falta de pratica do que pela falta de vocabulário. A sobrancelha se ergueu, olhando em volta e se deixando demorar em silêncio mesmo em meio a correria dos outros convidados. Mesmo no meio do tumulto, as pessoas conscientemente evitavam esbarrar neles, e não podia achar isso menos que agradável.

- Nós poderíamos, mas não deveríamos. - ele responde. - Vai acabar sem maiores danos, e não terão ideia de por onde começar. - ele diz, de forma calma sem tirar os olhos de Hector. - Não vamos interferir.

A última resposta saiu mais como uma ordem do que uma simples decisão, e ele a encaminhou para a saída quando um empregado nervoso sugeriu que se retirassem do salão "para sua própria segurança". No entanto, não iam ir junto da multidão que saía, e ele tratou de abrir um buraco por onde passaram - e por onde outros convidados se apressaram em passar para fugir. Entraram calmamente na carruagem, ele seguro de que existiam mais de uma maneira de ajudar os outros.

Aparecendo em uma das sombras dentro do salão, ela não perdeu tempo antes de correr para o lado de Seth e Hecate, espada em punhos e em posição defensiva.

- Senhora Hecate, Imperatriz, qual a situação?- Ela indaga, olhando para o Arquiduque.


Ela emerge da passagem em uma das extremidades do salão, mais próxima das três presentes do que de Hector. O buraco que o Príncipe de Thyrmëinn abrira ajudara a diminuir o fluxo em uma das entradas, e a evacuação estava mais rápida. Bom, significava que podia focar no verdadeiro problema.

- Lorde Erin Harway de Ralion à sua disposição, Conselheira Imperatriz.- Ela afirma, mas sem fazer uma vênia, não era hora de cortesias.

A chegada de pelo menos dois agentes para os auxiliar já indicava que, pelo menos, não causariam maiores danos do que aqueles dentro do castelo, e se mais reforço estava a caminho, é porque não havia outro foco.

O que não deixava de levantar dúvidas, mas não era a preocupação do momento.

- O arquiduque precisa ser contido, sem uso desnecessário da força. - ela afirma para a Caçadora Vermelha e Sophie. - Não parece estar se importando em se preservar, nem tem um alvo específico em mente.


As forças de auxílio pareciam estar chegando, com algumas unidades começando a cercar o castelo e iniciarem seu trabalho.

No entanto, quando se trata da nobreza, nada é tão simples. A primeira prioridade seria auxiliar o grupo ainda dentro do salão e conter a ameaça, mas parecia que a grande maioria dos convidados não tinha a mesma ideia em mente. Fosse por causa de um corte ou um pé torcido - que podia ser muito bem por causa da dança do que por um ataque - a entrada precisava ser adiada, ou não mandariam tantas pessoas o quanto antes, a não ser aqueles com patente alta o suficiente para não sofrerem retaliações.

Um suspiro pesado saiu de si depois de, pela 3ª vez em menos de 7 minutos ali, ele ser parado e atacado com pedidos de "leve-me até a emergência!", "me carregue" e coisas do tipo. Ele esperava pela chegada de Kitty e do restante para iniciar as operações: quais grupos iriam lá para dentro e quais ficariam do lado de fora auxiliando a evacuação, reunindo pessoas que se separaram na correria. No momento, a possibilidade de um sequestro era o que o preocupava, dada a confusão.

- Segundas-feiras. - ele murmura, apertando a têmpora.




O salão parecia mais esvaziado, e ele começava a vacilar um pouco. Não se movia muito, mas não precisava necessariamente: com o poder de armas, tinha como manter uma distância segura enquanto mandasse chuvas de ataques.

A ex-getsukai parecia ser seu novo alvo, lançando armas depois de armas em sua direção.

Aparentemente, ela era o alvo, o que não lhe surpreendia tanto. Sem problemas. Armas eram feitas de metal, e isso era algo que controlava muito bem. Rápida, esticou uma mão, e os armamentos imediatamente "explodiram" em ligas de metal, não cortantes, indo rapidamente na direção das pernas e aos braços de Hector- não para ferir ou perfurar, mas circulado, como se para segurar. E enquanto a mão esquerda ainda estava erguida, na direita materializou-se uma pistola de dardos soníferos, levantando e disparando rapidamente na direção em que ele estava e para os lados, segundos depois.


 

Despontando nos portões do castelo, Hermyar chegava com uma parte dos reforços, não perdendo tempo em distribuir ordens aos presentes, indicando que a prioridade era agilizar a saída para poder retirar todos os que ainda estavam no salão e garantir que não houvesse maiores incidentes. 

Chegando ao Castelo pouco após Hermyar, os Syfel já sabiam bem o que fazer e partiram imediatamente para ação, a presença de Lauren colocava medo em alguns e agilizava o processo. Apesar de ter ingressado os Syfel após a queda da Shinrakuen ao invés do Exército regular, sua antiga posição de sub-capitã e seu rank de Paladin - uma dos poucos - a tornara uma figura respeitada - e temida - entre os militares. E que tinha certa independência em escolher seus caos, além de às vezes receber ordens de Hermyar.

-SOOOROOOR!- Ela exclama, um sorriso em seu rosto e balançando uma mão, entusiasmada, e como era de praxe desde quase sempre, pulou para um abraço, mas logo o soltou.- Só nos encontramos em momentos assim agora! Como vai a Kathy e o bebê? Você deu uma olhada no pedido que eu fiz?- Indaga com os olhinhos brilhando, e antes que ele responda, ela vira para as tropas e dá algumas instruções precisas do que fazer.

Ele ergue uma sobrancelha quando Kitty pergunta sobre algum "pedido". As relações entre syfel e o exército nunca foram as melhores, e não o admiraria que existisse uma ou duas papeladas entulhadas em algum canto - provavelmente alguém que não reconheceu o nome da assinante, pelo seu próprio bem.

- Que pedido? - ele questiona, até que se aproximam para esclarecer quem se encontrava no salão: menos do que uma dezena de convidados, a Imperatriz, os conselheiros, a Caçadora Vermelha e Sophie. - Bem, vamos continuar essa conversa depois, precisamos nos infiltrar de alguma forma que não sejamos percebidos, e esse é o seu departamento.



Não parecia que estava agindo de forma coerente, mas suas investidas não tinham nada de aleatórias. A parte do momento que o poder copiado passou a ser inútil, outro era usado para si. Com isso, sangue começava a sair pelos ouvidos: não era forte o suficiente para, naturalmente, tentar esse tipo de coisa, e seu corpo recebia danos sérios por esse motivo.

Correntes de ar o levantaram do chão, saindo do caminho dos dardos tranquilizantes e pousando do outro lado do salão. Para as fibras de metal que o restringiam, foi só o caso de outra manobra - adicionando oxigênio nas ligas, não era nada difícil quebrá-las, já que as os elementos prefeririam formar ligações com ele do que entre si.

Seu objetivo agora era repetir o mesmo, mas contra a construção como um todo. As paredes começaram a tremer, e não parecia se importar em ser enterrado junto. No entanto, fibras de metal eram mais simples do que ligas inteiras no esqueleto de um castelo, e custava tempo.

- Os mesmos pedidos que eu faço a você desde Oblivion, claro.- Ela roda os olhos, mas logo em seguida faz um pequeno aceno com a cabeça, de quem entendeu a mensagem, e não perdeu tempo em cumprir o que era esperado. Fechando os olhos, Kitty teceu uma ilusão ao redor dos que entrariam no castelo: alguns pareciam simplesmente desaparecer, outros era guardas do palácio, funcionários que estavam ali para ajudar. Ver as forças militares entrando em massa poderia passar a mensagem errada.

Mordeu o lábio e, inspirando profundamente, prosseguiu para fazer algo mais complicado: uma ilusão dentro da já existente, para os convidados, fazendo uma ilusão de tranquilidade, algo que deixasse os Syfel e os exércitos fazerem a evacuação com maior eficiência.

-Isso deve ser o suficiente.- Afirma com os olhos fechados, focada em manter as ilusões. Era, no mínimo, trabalhoso.


"Merda", foi a primeira coisa que veio a mente de Erin ao sentir o castelo tremer, virando para a multidão e erguendo uma sobrancelha ao ver que pareciam estranhamente mais controlados e o tremor não parecera tão alarmante. Melhor para si, poderia focar no que era importante, em fazer com que o Arquiduque não matasse todos ali dentro.

Mordendo o punho, ela deixou o sangue escorrer, melando a ponta de um dedo de cada mão nele  e com os anos de prática desenhando símbolos alquímicos em cada uma delas. Erguendo os braços como se tocasse o ar, fechou os olhos e inspirou profundamente, antes de abri-los de súbito.

- Conselheira, Imperatriz. Vento frio.- Ela diz, e se parecia críptica, logo logo iriam entender, porque a temperatura começava a subir no recinto. Usando seus poderes, Erin estava travando uma batalha em um nível invisível com Hector: se ele tentava usar o oxigênio para desfazer as ligações, ela voltava a quebrá-las e rearranjá-las, e as quebras liberavam energia que estavam fazendo o salão aquecer. Sinais da alquimia eram vistos nas paredes, e a própria Erin começava a suar, sua temperatura aumentando pela energia que involuntariamente estava captando.

Ela não esperava que, mesmo nessas circunstâncias, a estratégia do que estivesse acontecendo, o que do raios estivesse passando na cabeça de Hector, seria desabar tudo. Pelos deuses.

Assim que ouviu o pedido de Erin, ela não se demorou a criar ventos frios que envolviam o salão, procurando amenizar a temperatura que se elevava pelo, por assim dizer, "embate silencioso", entre os dois. Não tinha dúvida que a syfel pudesse vencer, mas a questão era que os dois - senão, os quatro, contanto com ela e Hecate - estariam ocupados demais para contra-atacar qualquer outra coisa nesse meio-tempo, e, para o bem ou para o mal, isso era uma oportunidade.



- A idade está pesando? Você não era assim. - ele brinca em tom irônico ao ver o esforço que a colega estava precisando fazer. Claro, ele sabia que em tamanho era um feito diferente do usual, mas não podia perder a chance.

Ele assentiu na direção de Kitty e, antes que ela pudesse retrucar, se afastou enquanto deixava alguns soldados à volta para garantir que ninguém a incomodasse enquanto mantivesse a ilusão sobre eles e a oportunidade aberta.

Sob as falsas imagens, um grupo composto por ele, Allier, Fleur e Lauren entraram no castelo, chegando no cenário de embate e concentração de Erin e Hector.

Desde que se entendia por gente, Lauren Gaunt sempre foi que agia por instinto; nunca foi de olhar uma situação e analisá-la nos mínimos detalhes, sua mente simplesmente registrava e conectava direto a saída mais rápida para a situação, que nem sempre era a melhor. Então, quando viu a cena diante de si, não foi nada surpreendente ela ter reagido quase imediatamente.

-Somnus!- Ela falou em voz alta, erguendo a varinha e disparando o feitiço na direção de Hector com toda a intensidade possível para obrigar seu corpo a adormecer.

O olhar no rosto dele não estava nem um pouco bom quando, alguns meros minutos após chegarem, alguém de sua equipe simplesmente grita e ataca. Ele já havia tensionado o corpo, preparando para formar escudos de metal e quiçá armas para defender uma investida, quando seu campo de visão é ocupado pelo corpo de Hector sendo empurrado e abruptamente caindo no chão.

O arquiduque ainda tremeu em espasmos, como se tentasse resistir ao feitiço, mas de repente simplesmente para, o corpo relaxando e o tórax subindo e descendo em movimentos irregulares - a respiração igualmente ruim e forçada, indicando ferimentos internos que deveriam ser tratados imediatamente.

- A equipe média, rápido! - ele ordena, com guardas reais se apressando para chegar lá fora e passar o pedido. - E quanto a você. - ele diz, virando-se para Lauren. - Nunca ataque sem ordens expressas, esperava que entendesse o básico, mas os superiores tratarão disso depois.

Em seguida, ele indica tanto Allier quanto Avril a como deveriam prosseguir, apesar da visível cara de decepção das duas. Já que não havia mais conflito, era hora de tratar de feridos, buscar quem estivesse perdido e atender aos pedidos da realeza - e ele estava mais do que feliz em nomear ex-getsukais em ouvi-los um por um, mais pela reação de ambos os lados.

- Se não quiser enfrentar piores retaliações, vai se juntar às suas colegas. - ele comenta depois de suspira profundamente, sem olhar diretamente para Lauren, mais como uma sugestão.

Ao ver Hector caindo, ela correu para o lado dele e agachou-se, e sem esperar as unidades de médicos chegarem, já procurando cauterizar algumas pequenas feridas para facilitar o trabalho da equipe. Soltando um suspiro quando eles chegaram e levaram o arquiduque para dentro, a Conselheira massageou as têmporas. A situação poderia estar sobre controle pelo momento, mas não quer dizer que estava tudo bem.

- Isso é um caos diplomático.- Ela afirma, erguendo-se e limpando o suor da testa. Erin ainda estava trabalhando a arrumar o que Hector havia danificado da estrutura, e o calor ia gradativamente diminuindo.


Porque ela não estava surpresa que Lauren agira sem a autorização de Soror? Era o tipo de reação que podia-se esperar completamente da ex-Getsukai, que poderia ser tão imprevisível - e graças aos deuses, menos destrutiva - do que Byakuran. Claro, resolvera a situação em que estavam, mas esse era o tipo de comportamento que eles esperavam, o que não podia mostrar. Avril parecia pronta para matar a colega Syfel pelo ocorrido, provavelmente porque receberiam mais trabalho. 

Ela fez a espada desaparecer, mas manteve a armadura e o vestido rasgado... Bem, aquilo não tinha volta. Indo até Soror, que estava responsável pela operação, Sophie juntou os pés e bateu uma continência. Parecia estúpido, afinal, era seu pai, mas no momento ele era o Paladin Rainsworth e seu superior direto, a quem ela estava inevitavelmente subordinada.

- Senhor.- Ela diz, ainda com o braço erguido e em posição.

Era verdade que não era mais membro de nenhum grupo, não atuando nem com Syfel nem como militar, mas sua figura não era menos ativa por causa disso.

Bem que ela queria que esse mito fosse verdade.

Saindo do transporte que a trouxe das imediações da escola até a entrada do castelo já trajando o jaleco, era difícil ter alguém que não a reconhecesse - fosse pela preocupação em conhecer os funcionários da escola, fosse pela sua inigualável carreira na área médica, que faziam dela uma das melhores especialistas vivas no assunto.

Alguns até tentaram pará-la no meio do caminho e pedir que verificassem seu estado, mas, com a maior educação que podia, ela indicava o batalhão que poderia cuidar de si - vendo que ninguém ali havia estava em estado grave.

Foi levada para dentro do palácio e se apressou em se aproximar dos conselheiros.

- É bom revê-los, mas não nessas condições. - ela diz, se dando ao luxo de pular  as formalidades e começar a curar o arquiduque.



A frustração estampada no rosto das ex-getsukais e o receio no rosto dos nobres que esperavam por outro tipo de oficial para auxiliá-los certamente compunham o ponto alto de seu dia. Era divertido assistir.

A aproximação de Sophie não passou despercebida, e depois dela cumprimentá-lo como seu oficial - um exagero, ao seu ver - ele torceu o nariz frente ao vestido rasgado e as botas de metal.

- Descansar. - ele diz logo depois, vendo que ela mantinha a continência. - Reporte o que aconteceu.

Soltando um suspiro aliviado com a chegada de Serah. Era bom ter alguém da família e confiável cuidando de Hector enquanto não soubessem o que acontecera.

-Como ele está?- Ela indaga para a médica, ainda preocupada.


Ela relaxa, colocando as mãos nas costas, soltando um suspiro pequeno, prosseguindo para contar o que houve no salão: quando Hector começou a ficar "estranho", Hecate indo até ele e sendo atacada, o conflito que se seguiu, falando da parte em que Demitri os tirou dali e que ela voltou, a tentativa de conter Hector, ele e Erin na batalha microscópica até o momento em que Lauren havia soltado um feitiço - Sophie estressou o fato de ele ser completamente inofensivo, a necessidade de proteger a si mesma e aos outros.

- Ordens?- Ela indaga, com cuidado.

Quando Hecatw perguntou do estado de Hector, ela assente e para os procedimentos que havia iniciado - já não estava em situação de perigo, com as hemorragias internas estancadas. Ela veste uma luva fina r branca, então começando a emanar uma calma luz verde da mão esquerda e passando ela por cima de todo corpo do paciente.

- Está estabilizado, e os sinais vitais também parecem normalizados. - ela diz. - Ainda vai dormir por... Mais um dia inteiro, eu diria. E quando acordar pode sentir alguma tontura, fruto do tímpano rompido, mas contando com mais uma visita amanhã será possível reverter.

Sua fala era calma, mas precisa. Ela parou de analisá-lo e voltou a concentrar-se em curá-lo.

- Mais alguém foi ferido na batalha?



Ele escuta atentamente e simplesmente assunte quando Sophie termina de falar, pensativo. Pela forma súbita como aconteceu, ele não duvidará que fosse alguma possessão ou outro tipo de poder mental - não sabia se a possibilidade de um doppëlganger existiria, considerando que Serah não havia se manifestado.

- Vou precisar que repita o depoimento para outras pessoas. - ele responde à indagação. - Fora isso, devo parabenizar a sua atuação. - ele diz, abrindo um sorriso. - Agora preciso tratar de algumas coisas.

Ele se afasta, indo discutir com Hermyar a possibilidade de fazerem uma relação dos poderes de todos os convidados da festa - seria pelo menos um começo.

Ela balança a cabeça em resposta à Serah.

-Talvez alguns tenham sofrido com o calor, mas fora isso não houve maiores causalidades. - Ela solta um suspiro e vira-se para Seth.- Desculpa, mas acho que vou ter de pedi-la para passar a noite me ajudando a redigir as cartas que precisarão ser enviadas.


Ela cora com o elogio, mas abre um sorriso contente e menea a cabeça.

- À ordens.- Ela afirma, indo para junta das antigas companheiras e aproveitando para perguntar como elas estavam, e fazer comentários irônicos sobre o porquê de Byakuran não estar por ali.