Castelo Branthèse

Ela oferece a mão para Jacen e faz uma última reverência, passando pelo seu rosto, mesmo que por pouco tempo, uma sombra de decepção: pelo tratamento formal perfeito e a maneira impecável, não podia deixar de pensar se ele só aceitara ser seu par por educação, para não contrariar a princesa do reino em que estava. Não seria por fama, os deuses sabiam que os Stormshadow não precisavam se rebaixar por um motivo desses, mas ela não podia deixar de admitir que estava um pouco desapontada pela falta de um... algo mais. Talvez fosse o brilho nos olhos do irmão enquanto voltavam para o castelo ao falar de Sophie, queria algo assim também.

Estava sendo egoísta? ... Ciumenta?

- Agradeço imensamente pela companhia. - ela responde, sorrindo e logo depois vira-se para Hecate, corando levemente com a aprovação da madrinha e guardiã quanto ao visual.



Não fosse a menção do empregado encarregado de anunciar sua chegada, talvez ainda demorassem a notá-lo ali. Não fez barulho ao terminar de se arrumar, e muito menos uma entrada triunfal chamando toda atenção para si.

Sabia que isso não era normal.

Sabia que iam notar.

Mas não é como se conseguisse mudar o gosto amargo dentro da boca toda vez que colocavam a coroa dourada sobre sua cabeça. Ela estava ali, reluzente sobre os fios loiros cuidadosamente penteados. Era aberta no centro, encaixando-se na cabeça, e dela subiam 8 "espinhos" em que constavam jóias de turmalina lilás e detalhes em ouro branco. Não parecia pesada, nem fora desenhada para que o fosse... Mas era.

Seu porte era perfeito: as costas eretas, o olhar fixo. Tudo de acordo com o treinamento que recebera. No entanto, o rosto tinha um sorrio amarelado, forçado, enquanto descia as escadas para cumprimentar a madrinha, a tia e, claro, seu par. Trajava uma roupa branca, com detalhes em dourado que destacavam os botões horizontais que fechavam a peça de cima, feitos de pedras brilhantes de cor lilás. De gola alta, davam-lhe um ar real e disciplinado, de corte feito para seu corpo. Nenhuma peça parecia grande ou apertada demais: passara a semana arrumando o traje com um grupo de costureiros e profissionais, mas, agora, mal podia esperar para tirar ele.

- Boa noite a todos. - ele diz ao terminar de descer as escadas, e todos o recebem com uma reverência, fazendo-o respirar fundo com a maneira como o tratavam.

Seus olhos pararam em Sophie, e não pôde deixar de demorar-se em cada detalhe do vestido, do cabelo, da maquiagem. Provavelmente estava quebrando algum protocolo, ou simplesmente sendo inconveniente ao fazer isso, mas sentia que não poderia olhá-la o suficiente, nem se pudesse parar o tempo naquele instante.

Ao ouvir a voz de Len, surpresa pela entrada tão sutil, mas não deixou o sorriso desaparecer de seu rosto ou seus olhos azuis brilharem menos quando se virou na direção, radiante.

- Len!! - Ela afirma em alto em bom som, simplesmente radiante de alegria em vê-lo de novo, dando alguns passos em direção à ele sem parcimônia.

Contudo, há poucos passos dele Sophie percebeu os empregados curvados, assim como Jacen e Hecate e congelou, olhando de um lado para o outro. Um brilho vermelho cobriu sua face ao perceber que não fazia a menor ideia de como agir: se ignorava  protocolo e abraçava Len ou se fazia o que era esperado. 

Respirando profundamente e tomando coragem, ela aproximou-se até ficar próxima a ele e ao invés de fazer uma vênia, apenas abaixou a cabeça por um momento, logo a levantando e abrindo um sorriso.

- Você está ótimo.- Ela fala com doçura.

Ele não deixou de ficar surpreso pela recepção de Sophie, mas logo após soltar o ar preso, ele não deixa de abrir um sorriso radiante. Concentrou-se nela, tanto pela proximidade quanto pelo conforto que ela trouxe consigo, relaxando mais um pouco.

- Assim eu fico sem elogios para dar a você. - ele responde, sorrindo. - Está maravilhosa, essa cor lhe cai muito bem. - ele continua, tomando a mão dela e beijando as parte posterior de maneira respeitosa. - Fico feliz que tenha vindo.

O gesto de Len fora completamente respeitoso, mas isso não impediu de um brilho rosado tomar conta de sua bochechas e seu sorriso diminuir um pouco, tornando-se mais tímido.

-Agradeça a suas primas, eu não estaria nem tão bem sem elas!- Ela diz com uma pequena risada. - Estou feliz de estar aqui, Len. - Não era uma mentira, mas também não era uma verdade completa. Estava assustada, e com medo das reações.


Assim como os outros presentes, ao ver o Rei ele imediatamente inclinou-se em um cumprimento respeitoso. Entretanto, no momento em que Sophie exclamou Len ele se ergueu, olhando para a cena que se desenrolava diante de si com espanto. Não, não, aquilo não estava correto, ia contra todo e qualquer protocolo de etiqueta de qualquer reino. Jocelyn era muito pior, mas ainda assim! E, se o que via nos olhos da princesa era verdade, então sua tentativa de passar uma boa impressão havia falhado miseravelmente, tendo o efeito oposto.

Jacen sabia que estava vermelho, frustrado e indignado, mas, oras, o que ele era suposto a fazer quando todos os seus planos caíram por terra? Os Senhores da Tormenta não era conhecidos pelos seus temperamentos pacíficos. Eles aprenderam a controlar, mas a marca de Cerelle ainda estava bem clara. Soltando um suspiro ela aprumou a postura e tentou retomar o semblante de neutralidade, era o mínimo que podia fazer.

Olhando a princesa pelo canto dos olhos, Jacen se deu conta de que agora ele não fazia a mínima ideia de como agir, e amaldiçoou todos os anos de treinamento por serem inúteis quando ele mais precisava.

-Isso foi... Inesperado.- Ele comenta para Rin, em uma tentativa risível de iniciar uma conversa. Nem ele esperava que desse certo.

O comportamento de Sophie não lhe tirou a atenção, apenas terminando sua reverência da maneira como as aulas lhe haviam ensinado. Se ela poderia ter ficado surpreendida, a reação mais relaxada do irmão a encheu de segurança e um sorriso divertido abriu-se em seu rosto - sentiu o quanto ele estava estressado e receoso quanto ao evento enquanto chegavam ao palácio, e só mudava quando falava de Sophie.

Jacen, no entanto, não parecia ter entendido tudo, e ela podia jurar que havia captado um vislumbre de frustração quando seu rosto estava avermelhado. Ela engoliu em seco, cogitando no que poderia tê-lo deixado desse jeito. Apenas soltou o ar quando seu par tentou puxar conversa consigo.

- Pois. - ela responde, virando para encarar o irmão e Sophie. - Mas não acho que seja de todo ruim. Foi uma ótima forma de quebrar a tensão, estava ficando um pouco formal demais, e estamos só em família por enquanto.

Ao ouvir as palavras de Rin, ele não conseguiu impedir que um dos cantos de seu lábio se erguesse em um sorriso levemente irônico. Aparentemente, até a mais alta nobreza de Ekalyon podia se permitir ser informal em família, enquanto em sua casa ele não poderia ser nada mais nada menos do que a rígida perfeição das normas. Já era um herdeiro em um local onde mulheres dominavam, e isso somado ao comportamento da irmã gêmeos... As línguas de Tellius poderiam ser muito maldosas, e os deuses sabiam que sua mãe se importava com a opinião alheia.

- Você tem razão. - Ele diz, abrindo um sorriso que não chegava completamente aos olhos e ficando quieto. A verdade era que ele não fazia a mínima ideia do que falar com a princesa, não de um assunto mais normal. Qual seria um assunto apropriado? O silêncio era constrangedor. E ele estava começando a ficar ansioso, o que não era nada bom.

"Ele não soou tão convencido." ela pensa ao ouvir a resposta do par. Não tinha ideia do que estava passando pela cabeça dele - podia muito bem estar diminuindo o irmão por aceitar um comportamento inferior ao formal em um momento desses. Ao mesmo tempo, também não parecia tão interessado em dar um fim à conversa, ainda que não soubesse por onde começar.

- Andou mais pela cidade com sua irmã? - ela pergunta, curiosa. Haviam se encontrado no shopping, e não sabia se tinham visitado outro lugar. A exposição no museu talvez? Pelos céus, agora que pensava nela, pensou no quanto a família estava exposta por causa disso. Será que havia sido uma boa ideia tocar no assunto?

Internamente ele soltou um suspiro e comemorou quando Rin quebrou o silêncio, dando a ele tudo que ela precisava: uma abertura.

- Menos do que eu gostaria.- Ele responde soltando um suspiro desapontado.- Josie passou tempo demais para escolher o vestido, na verdade eu tenho quase certeza que ela estava demorando só para me fazer perder o horário. Típico. - Ele continuou, rodando os olhos com as atitudes impensadas da irmã. - E quando saímos ela nos arrastou para comer algo e eu só pude observar a cidade rapidamente, porque Jocelyn e observação não andam juntos.

- Oh, é uma pena. - ela responde, suspirando. - Houve uma bela exposição de flores, inclusive algumas de Tellius. Mas creio que a programação para os próximos dias também contenha alguns itens interessantes. Poderíamos ir visitá-las. - ela continua, até que se toca no que tinha acabado de propor.

O rosto tomou uma cor rosada, e ela não era o tipo de pessoa que enrubescia por qualquer motivo. No entanto, estava ao lado de alguém que, até o momento, parecia preocupado com etiqueta e ela "só" o havia convidado para que saíssem juntos. Precisava arrumar aquilo.

- E chamar a Daenerys, Arya e também sua irmã caso se interessarem. - ela complementa rapidamente, esperando que o espaço de tempo entre as falas não tenha sido embaraçoso para ele tanto quanto foi para ela.

Ele quase engasga com o que ela disse, arregalados os olhos, completamente incrédulo e ficando de uma cor parecida com seu cabelo. Após piscar algumas vezes, surpreso demais para formular uma frase coerente e Rin tentar ratificar o que disse, ele não se conteve e soltou uma risada. Deuses, que situação!

- Eu adoraria. - Ele diz rapidamente, limpando a garganta. Não, não, isso não estava certo. - E se houver música e dança no meio, Josie pode se sentir mais inclinada a ir. - Ou não, Jacen nunca sabia dizer.

Ela assente, sorrindo. Talvez não pudesse apagar o gafe, mas agradeceu internamente por Jacen tê-lo ignorado e ido na onda do novo tema. Além disso, ele tinha aceitado, o que era melhor ainda.

- Farei questão de incluir atrações que as incluam na visita. Está combinado então, depois das aulas em um dia em que tenham a tarde livre, ou no próprio fim de semana. - ela termina. - Falando em música, gostaria de ouvir depois a sua opinião sobre as definidas para o baile, espero que a seleção esteja harmoniosa.



"Meu deus essas criandas chegam a um novo nível de embaraçoso." ela pensa, colocando a mão à frente do rosto para conter uma risadinha divertida com o cenário. Estavam tão fofos juntos, cada um enrubescendo aqui e ali com seu respectivo par.

Quando Rin e Len dão conta da presença da tia ali, de novo - aparentemente por estarem tão imersos nas conversas - o rubor foi impossível de disfarçar, até porque eles sabiam do que ela estava se divertindo, e ficava óbvio que qualquer outra pessoa ali, dos empregados a própria Hecate, também notariam. Que vergonha.

Ele assente quando Rin reafirma a ideia de antes, não havia muito mais a ser dito, mas seu rosto simplesmente se ilumina com o comentário dela sobre a música.

- Mesmo? Isso seria simplesmente maravilhoso! -Ele afirma, visivelmente mais animado. Entretanto, durou até ver a expressão de Seth e desviar o olhar, fingindo que não estava acontecendo nada.


Ela olhava para Len e Sophie com um sorriso aberto, feliz. Muitos eram da opinião que a menina não era o suficiente, os Deuses sabiam quantos comentários dizendo que ela não era companhia apropriada para o Rei, mas eram momentos como esse que Hecate tinha orgulho de presenciar que diziam o contrário. Só cegos não percebiam o efeito que a jovem Artwaltz tinha sobre Len, como ele estava mais relaxado e mais confiante na presença dela, e como a as sombras no olhos azuis da própria Sophie diminuíam, tornando-se quase inexistente.

E Rin e o Jacen... No momento, não passavam de conhecidos, nem amigos eram, mas, talvez... Quem sabe? 

Um criado correu para falar consigo, sussurrando algo em seu ouvido. Quando ele voltou ao seu lugar, Hecate limpou a garganta, chamando a atenção para si, ela olhou ao redor.

-Onde está Hector? Devemos ir aos nossos lugares, os convidados já estão chegando.

Ele chega calmamente, fazendo questão de se dirigir aos funcionários e empregados no caminho, tendo certeza se estavam dispostos, se sabiam o que deveriam fazer e mesmo se estavam se sentindo bem. Não era uma surpresa que o antigo rei e, hoje, arquiduque agisse dessa maneira - tiveram muitos anos para se acostumar com essa natureza simpática ao lado da antiga rainha. Por si mesmo, Hector não notava o quão incomum seu comportamento era - ou talvez sim, e fosse exatamente por isso que se importava de agir assim. A forma e a hierarquia em Zephel antes da revolução de Nagisa o haviam marcado, tendo visto muitas pessoas serem descartadas como se não valessem nada.

Mas por que estava pensando em Zephel logo agora? Fazia anos que sua terra natal não passava por sua cabeça. Enfim, não parecia ser importante.

Foi tirado de seu devaneio quando um funcionário veio lhe avisar que Hecate estava procurando por si. Era de adivinhar que estivesse, considerando que estavam prestes a dar início ao baile e tudo deveria estar em seu devido lugar.

Ele se aproximou com calma, recebendo uma reverência dos outros ali reunidos, exceto do próprio Len, o único que ultrapassava seu rank real. Por sua vez, ele reverenciou o filho e depois seguiu para cumprimentar a todos: primeiro a filha, depositando um beijo na testa da mesma e sendo retribuído com um sorriso caloroso, depois Sophie, a cunhada, o próprio Jacen e, por último, dando de cara com Hecate, que parecia estar pronta para relembrá-lo do quanto o momento era importante.

- Peço perdão por estar em cima da hora. Estava realizando alguns preparativos. - ele responde, esperando que fosse o suficiente para diminuir o tanto que teria de ouvir.

Ela imediatamente ergue um dedo e abre a boca para relembrá-lo do quão importante o baile era, onde ele estava e o que estava fazendo que era mais importante. Mas, olhando para os presentes, ela percebeu que aquele não era o lugar nem a hora ideal para fazer isso. No fim, ela inspirou profundamente, bufando em seguida.

- Tudo bem. - Foi sua resposta, simples e claramente inconformada, seus olhos dourados prometendo que depois ela e Hector teriam uma conversinha sobre esse pequeno deslize. Ao longe, ela viu um dos empregados fazer uma aceno.- Assumam seus lugares.- Ela afirma, mas ao mesmo tempo arrasta e leva cada um deles até lá, por fim ela mesma tomando o seu e, uma vez sentada, faz um sinal para o empregado - era tudo que ele precisava saber.

Os portões do Castelo foram abertos, os carros começaram a entrar, e o baile estava, oficialmente, começando.

Ele observa por alguns instantes, pela janela, a grande linha de carros que começava a entrar pelos portões, os faróis iluminando o percurso além das tochas mágicas que flutuavam e indicavam o caminho desde os jardins até a entrada que dava para o salão onde estavam.

"É o primeiro passo, e imagino o que tantos nobres venham fazer aqui." ele pensa, engolindo em seco e procurando a mão de Sophie, até que a acha e, mesmo através da luxa branca que usava, aperta-a só para ter certeza de que estava ali.

Ela morde os lábios ao ver as pessoas saindo dos transportes e entrando no salão, e instintivamente ela também aperta a mão de Len, dizendo a si mesma que não poderia fraquejar.

Aos poucos os convidados vão chegando, lordes, barões, condes e marqueses do reino e de outros, todos presentes para prestigiar o Rei e os embaixadores estrangeiros. Os que não conheciam a si ou sua história parecia indagar quem era quando cumprimentavam o Rei, e os que sabiam sobre seu nome e seu passado lhe mostravam sorrisos falsos. Ela conseguia ver os pensamentos deles em seus olhos. O que achavam de si. E machucava.

-

Enquanto isso, na entrada do baile, duas pessoas se aproximavam do anunciador. Não precisaram dizer seus nomes, afinal, ele já os conhecia.


Seu nome foi anunciado para todo salão ouvir e, com um sorriso contagiante, Arya entrou no salão de baile, atraindo olhares arregalados para si. Ela bem sabia que seu vestido, não era o usual ou esperado, naquele tom de roxo vinho com uma fina camada de gaze preta brilhante por cima, tomara que caia e com o corpete todo bordado com pedras negras e pétalas de tecido da mesma cor do vestido, com a cintura marcada e de onde começava uma saia volumosa, também bordada, que terminava na metade de suas coxas na frente e mais longa atrás. Por baixo havia outra camada, menos armada, mas que ainda deixava parte de sua canela e seu pé à mostra, formando uma cauda atrás. Usava sapatos de cetim preto, altos, o cabelo solto e em formosos cachos; sua maquiagem era mais básica, com delineador e sombre negra, além do batom vermelho escuro.

Mal chegou ao fim da escada e já foi andando falar com os conhecidos, cumprimentando-os.



Trajando um paletó bege, com colete marrom, gravata dourada e blusa branca, Robb não estava nada, nada contente em estar ali. Bailes não eram seu evento favorito, mas se não aparecesse as chances eram que iria ouvir muito da mãe, e o baile era algo preferível a horas de sermão sobre decoro e outras coisas que Hecate apreciava.

Então, colocando o sorriso mais falso que podia na cara, ele acompanhou a irmã, cumprimentando quem quer que viesse falar consigo.

Ele procura cumprimentar todos os que se aproximavam com cortesia e simpatia, esperando não soar tão nervoso quanto pensava estar. Sua postura, até então, estava perfeita, mas ele não tinha ideia disso.

Era inevitável que alguns barões e marqueses, considerando seus ranks hierarquicamente mais baixos, procurassem se demorar ao falarem com ele, como se com uma conversa pequena, falando de assuntos alheios, pudessem marcar sua presença na mente do jovem rei e, quiçá, exigir algum favorecimento mais tarde. No entanto, se o próprio Len não era capaz de, com a tática de educadamente lembrá-los dos outros que queriam falar consigo, Hecate e Hector eram mais do que capazes de tirá-los de perto com conversas que lhes chamassem a atenção, além do olhar atento da Imperatriz dos Elemento a alguns passos atrás poder ser bastante ameaçador.



Impecáveis com o horário, o apresentador não precisaria de ajuda para lembrar de quem se tratavam, mas, por precaução acima da conveniência, Yang se apresentou e apresentou o resto da família que o acompanhava.


Suas roupas eram em tom preto e cinza claro, com um corte diferenciado daquelas de Ekalyon ou dos outros reinos próximos. O tecido parecia mais reluzente e mais exótico do que a maioria dos outros exibidos no salão, com uma pequena gola mais alta que garantia o aspecto reto e austero da roupa, ainda que seus tons fossem claros.

Em grande maioria, jovens damas vieram cumprimentá-lo antes de qualquer outra coisa, com sorrisos simpáticos demais para lhe agradar. Ainda assim, ele não demonstrou nada menos do que perfeita cortesia, ainda que também não houvesse nenhum interesse por trás de seus modos.




Ela respirou fundo quando falaram seu nome tão alto assim, mas ficou aliviada quando a atenção era desviada para seus irmãos mais velhos - bonitos, solteiros e extremamente ricos, não era de duvidar que fossem a atração.

Vestia um traje completamente branco, um vestido que, para sua própria surpresa, era um tomara que cara cuja parte superior tinha o corte semelhante ao das pétalas de uma lótus. O tecido era completamente bordado em desenhos típicos de Yen'Darin e caía-lhe perfeitamente, além de uma espécia de capa que caía sobre seus ombros. Uma faixa dividia o vestido e acentuava a cintura fina. O cabelo estava preso com um pente longo e fino, feito de prata e no formado de uma garça. Ao invés de optar pelas lentes, preferiu manter os óculos no rosto, evitando que chamasse a atenção pela maquiagem clara e simples, em tons de branco e beige.

O segundo filho dos Zhao Wen adentrou o salão logo após a irmã mais nova, em caso de precisar auxiliá-la a descer as escadarias. Seu terno era era do mesmo modelo de seu irmão, mas onde o de Yang era claro, o de Hyeon era escuro, e vice-versa. A casaca era feita de um tecido exótico, marrom mais reluzente, contrastando com as calças marfim. O colete era decorado com vinhas do mesmo tom das calças, sobre um tom mais claro, com uma blusa branca por dentro e a gravata presa com um pequeno broche no estilo típico de seu lar.

Quando os Zhao Wen se aproximam para cumprimentá-lo, ele procura ser, antes mesmo de simpático ou algo parecido, respeitoso e prestar os devidos cumprimentos para com todos eles. Se perder apenas um membro da família era devastador como estava sendo para ele, ele não podia imaginar o que era perder toda a família e... tudo.

A pequena conversa que teve com Yang foi cordial, e o próprio estrangeiro pareceu surpreso por não ter sido recebido por sorrisos e celebrações - afinal, ele não tinha porquê festejar. Len podia jurar que, quando se afastou para dar lugar ao próximo, sentiu um ar amistoso do líder da família que até então era descrito como "sérios demais" ou "frio".




Ela detestava quando usavam seu nome completo, ainda mais quando ao fazer isso chamavam toda a atenção para si. Os olhares foram se virando, alguns imediatamente, outros não, mas ela virou o centro das atenções por alguns minutos. Não estava enrubescendo por vergonha, mas sabia que estava prestes a jogar aqueles sapatos fora e sair dali o quanto antes.

Tendo chego pouco após a Princesa de Loriath, não logo depois, mas em tempo o suficiente para as atenções mudarem de foco, exatamente como a senhora sua avó ordenara, Armand estava nada mais nada menos do que absolutamente tranquilo com os olhares, com os sorrisos e os cumprimento. Fora forjado toda sua vida para ser um político tão exímio quanto era um militar, para manipular com suavidade e graça. E era assim que o jovem herdeiro dos Black falava com todos que se dirigiam a si, com uma polidez carismática, mostrando interesse no que lhe diziam, mesmo que por dentro rodasse os olhos e desprezasse aquelas pessoas que não tinham um mínimo de orgulho por si próprias.




Isla Black entrou no salão com o nariz empinado e as costas eretas, olhando quem quer que viesse falar com cima de cima a baixo antes de sequer falar qualquer coisa, quando sorria e jogava falsa simpatia cheia de veneno para cima daquele rebanho. Armand lhe lançava olhares desaprovadores, mas virou a cara toda vez. Se recusava a vê-lo tratando aquela gente de uma forma que certamente não mereciam. Ele tinha que pô-los em seu devido lugar, não passar-lhes a impressão que eram iguais. A própria ideia era completamente absurda para si.

Armand se aproximou de si e juntos fizeram o caminho em direção ao rei e pelos deuses, o que uma criminosa fazia ao lado dele?! Ouvira os boatos, mas não conseguia acreditar que Len estava mesmo com alguém responsável por matar os Príncipes e filhos dos Minsitros, de destruir a capital e ter sua parte na guerra e na morte da Rainha Yuna. Era inaceitável, ultrajante, e Isla teve de se conter ao ir cumprimentá-lo para não falar nada, mas sequer olhou para Sophie, diferentemente de Armand que a cumprimentou com toda a educação. Como ele ainda poderi ser o herdeiro ao fazer apologia ao crime? Ao aceitar publicamente que uma criminosa merecia uma coroa? Como?

A apresentação com Ashe havia sido... refrescante, mais amistosa do que que a maioria das outras que tivera até então. Todas as cortesias básicas foram trocadas, seguindo os respectivos protocolos, mas o tom era diferente, menos pesado, e ele tinha certeza que a princesa estava fazendo isso de propósito. Falaram como os velhos conhecidos que eram, antes de tudo, e não como rei e uma herdeira de um trono estrangeiro.

No entanto, ela precisava seguir e voltar para a festa, mesmo que isso não a satisfizesse. Fez questão de tentar ser otimista com ela, até fazendo menção que uma certa pessoa em especial estava prestes a chegar, mas aparentemente ela não havia entendido o que ele quis dizer com isso. Em seguida... foram os irmãos Black. Ele podia jurar que o ar ficara 10 vezes mais pesado só com a troca de cumprimentos. Seus olhos não deixaram Isla mesmo depois deles se afastarem, sentindo a hostilidade transbordar dos olhos dela, e se segurando para não virar-se para Sophie e assegurá-la que ia ficar tudo bem.



Ela andava pelo salão acompanhada de Jacen, gozando de um pouco mais de liberdade do que o irmão, mas não menos deveres. Havia alguns nomes que ela não podia esquecer de cumprimentar, mesmo que não viessem diretamente falar com ela, os quais ela recebia com toda educação e doçura de sempre. Alguns, ao vê-la acompanhada, pareciam levemente desencorajados, especialmente os chefes de família, e ela procurava falar de assuntos mais leves, desviando a atenção daquele que pareciam querer tratar.

O efeito de sua apresentação foi quase instantâneo: o barulho no salão reduziu, mas as conversas se alastraram como fogo em palha, e os desafetos da nobre faziam questão de sair do caminho. Mariabelle observou todo o salão do topo da escada com atenção, absorvendo cada detalhe, vendo os rostos novos e conhecidos, e só após se dar por satisfeita - quem estivesse atrás de si que esperasse - começou sua descida pela escadaria de mármore. Seu vestido era como jade líquida, com um decote de coração e semitransparente em vários lugares, todo bordado com pedras de esmeralda.

No pescoço estava um colar de grandes diamantes e esmeraldas alternando, ligado por ouro branco. O cabelo negro estava preso num coque de cachos, e em sua cabeça repousava uma tiara toda de diamantes e esmeraldas, em um modelo clássico na frente com as pedras verdes e, nas pontas tomando a forma de duas delicadas asas, minuciosamente cravejada. A tiara fora um presente do Rei de Ekalyon para a Princesa Euphrosyne Von Einzenberg, sua filha, para seu casamento com Harwyn Vi Alstraim. Estava bem maquiada, com os olhos destacados pela sombra e delineadores escuros.

Caminhou pelo salão sem muita dificuldade, as pessoas sabiam aonde ela ia e saiam da frente, mas ainda sim ela cumprimentava alguns deles com acenos e pequenos sorrisos, até parar diante de Len.

- Senhorita Artwaltz, majestade. - Ela os cumprimenta com uma pequena reverência. No fundo, só sentia desgosto de ter que cumprimentar a filha da guardiã das trevas, o Rei poderia ter algo muito melhor se quisesse, algo mais vantajoso.


Ele acompanha Rin pelo salão, também cumprimentado várias pessoas e negando convites para conhecer outras melhor. Algumas era tao diretas que ele mal podia acreditar. Contudo, não era pior baile que já fora, a música fora definitivamente nem escolhida. A chegada da Princesa de Loriath chamou sua atenção, mas foi mesmo a da Ministra de Groundus que até o momento mais tinha impactado o salão.

- Ela não parece muito simpática, se permite dizer.- ele confia a Rin em voz baixa.

Ela respira fundo com a chegada de Mariabelle ao baile, uma presença que não era nada mais do que previsível, visto que se tratava de um dos Ministros das grandes regiões do reino, mas ainda assim... Não era como se não quisesse vê-la ali, mas ao mesmo tempo sabia como ela podia ser difícil de se lidar. O comentário baixo de Jacen chega e ela solta o ar, assentindo levemente com o olhar já mais baixo.

- É uma dama exigente. - ela confia de volta, tentando explicar da maneira mais simplificada e positiva que podia conseguir.

Ela observou o irmão falar com ela cordialmente, a educação transparecendo nos modos que reservava a líder de uma das mais antigas e influente famílias de Ekalyon. A senhora Mariabelle parecia analisar e julgar cada movimento, cada detalhe, mas ao mesmo tempo não transpareceu de maneira óbvia algum tipo de desgosto, e por isso ela já se sentia um pouco aliviada. Podia não saber o que estava pensando, mas bem... uma possibilidade de escândalo ou fiasco a menos.

"E ela é só a primeira dos nobres de Ekalyon" ela pensa, engolindo em seco.



Ele chega e desce do carro, esperando ainda na entrada do palácio a chegada de Ashley e de Charlotte, fazendo questão de arrumar a gravata e de fazer de tudo para parecer o mais perfeito possível, de forma a evitar qualquer comentário ou crítica da Ministra de Hydrogus - para o bem de Lotti, esperava pelo menos que começassem a noite em bons termos, mas não dependia apenas dele.

O momento em que o transporte oficial dos Wynvernihs parou em frente ao Castelo fotógrafos avançaram o máximo que podia. Assim como a Ministra de Groundus, mais uma nobre de uma importante família do reino chegava, senhora de uma Grande Casa e Ministra, tão aguardada quanto a realeza ou os embaixadores.

Os atendentes da recepção abriram a porta, e Charlotte foi a primeira a deslizar para fora, um sorriso largo enquanto cumprimentava os fotógrafos presentes, olhando de um lado para o outro, falando com eles, mas era mais uma desculpa para procurar Demitri. E, ao ver o cabelo rosa, ela abriu um sorriso e foi direto até ele.

- Você está ótimo!- Ela diz, alegre em vê-lo arrumado como a situação pedia, cores que combinavam com ele.

Ao ver Lotti se aproximando ele sorri gentilmente, sentindo um frio percorrer a espinha com a súbita atenção dos fotógrafos que a seguiram em sua direção. Era inevitável, mas ele gostava de se descrever como uma pessoa reservada. Limpou a garganta levemente, pegando na mão da namorada e levando-a até os lábios, curvando-se levemente para ir de encontro com a mesma e pousando um beijo na parte de trás, enquanto sustentava o olhar de Charlotte.

O brilho nos olhos dele não passou despercebido, e a própria pose em si... Basta dizer que as jovens que pararam para observar o motivo de tamanha comoção soltaram um suspiro longo e demorado. Ele voltou à postura original logo de seguida, ainda sorrindo para Lotti.

- Está encantadora. - ele diz, após vê-la completamente produzida.



- Parece que você chegou antes de nós, sr. Artwaltz. - ela diz, chegando por trás de Charlotte, com as mãos na cintura e encarando o garoto de cima a baixo, como se procurasse algo para criticar, mas o silêncio imperou, para a surpresa de Demitri.

Não, não foi que ela não tenha achado nenhum defeito. Um fio do botão do paletó estava começando a desfiar, algumas mechas de cabelo não estavam no lugar e o broche da gravata não estava centralizado, mas ela preferiu ficar quieta ao verificar a felicidade da filha. Além disso, estava rodeada de fotógrafos, e mesmo se parecesse a oportunidade perfeita de humilhar o pequeno Artwaltz, não haveria como não acabar atingindo a filha. Trataria dele depois, já dentro do baile.